A mulher trans de 29 anos encontra-se a cumprir o sexto de 35 anos de prisão, depois de ter sido condenada por 20 acusações relacionadas a fugas de informação, incluindo espionagem, tendo sido absolvida da acusação mais grave, ajuda ao inimigo.
Durante estes anos na prisão, envolveu-se numa luta com o Exército para fazer tratamentos hormonais, durante a qual tentou o suicídio.
Em Novembro, pediu ao presidente Obama que reduzisse o tempo da sua sentença aos seis anos que já serviu, afirmando que assumia "total e completa responsabilidade" pelas suas ações, e que não estava a pedir perdão.
E a apenas três dias de deixar o cargo, Obama concedeu-lhe o seu desejo.
Nascida em Dezembro de 1987, foi educada em Crescent, uma pequena cidade em Oklahoma. O seu pai, Brian, teria passado cinco anos no exército.
Os seus pais divorciaram-se quando ela era adolescente, tendo-se mudado com a mãe para Haverfordwest, no sudoeste do País de Gales.
Como uma adolescente, ela era considerada como uma “cabeça quente”, muitas vezes provocada por ser um “cromo”.
Um amigo de Gales, James Kirkpatrick, disse à BBC que ela era uma "pequena personagem engraçada", obcecada por computadores.
Depois de terminar a escola, ela voltou para os EUA e alistou-se no Exército em 2007 depois de vaguear por trabalhos mal pagos. Os amigos disseram que se alistou para ajudar a pagar a faculdade, e ela disse mais tarde que se tinha alistado na esperança de que o Exército a livrasse do seu desejo de ser uma mulher.
Como analista de informação no Exército dos EUA, foi dado acesso a Manning a uma grande quantidade de informações altamente sensíveis.
Mas como simples soldado, tinha um estatuto muito baixo com um salário relativamente magro.
De acordo com amigos, ela ficou frustrada com uma carreira militar que parecia estar estagnada.
Foi enviada para o Iraque em Outubro de 2009. E a sua vida pessoal parece ter atingido uma espiral descendente depois de ter sido destacada para o Iraque em 2009. As mensagens que ela postou no Facebook nessa época sugerem que estava longe de ser feliz. Escreveu no início de Maio de 2010 que estava "além de frustrada com as pessoas e a sociedade em geral".
Uma semana antes, escrevera: "Bradley Manning está agora com a sensação de afundamento de que não tem mais nada." Alguns dos posts pareciam referir-se a um relacionamento acabado.
Semanas depois as palavras pareceram proféticas ao ser presa por investigadores militares sob suspeita de roubar informações secretas.
Adrian Lamo, um hacker confesso, disse aos meios de comunicação do mundo que Manning havia admitido o roubo de dados durante as conversas que eles tinham na internet. "Servidores fracos, registo fraco, fraca segurança física, contra-inteligência fraca, análise de sinal desatenta ... uma tempestade perfeita." Lamo foi às autoridades com as mensagens.
Durante as audiências no tribunal marcial em Agosto de 2013, um psiquiatra militar testemunhou que Manning tinha lutado com sua identidade de género e queria ser uma mulher.
Em março de 2011, o Exército dos EUA acusou Manning de 22 acusações relacionadas com a posse e distribuição não autorizadas de mais de 720 mil documentos diplomáticos e militares secretos.
O Wikileaks tornou públicos dezenas de milhares de documentos relacionados com a guerra no Afeganistão. Mais tarde revelou milhares de mensagens sensíveis escritas por diplomatas dos EUA e registos militares da guerra no Iraque, causando constrangimentos ao governo norte-americano. Entre os arquivos que ela passou para o Wikileaks estava o filme de um helicóptero Apache a matar 12 civis em Bagdad em 2007.
Manning disse ao tribunal que tinha divulgado os documentos para desencadear um debate público nos EUA sobre o papel dos militares e sobre a política externa dos EUA. Numa audiência posterior, pediu desculpas por "magoar os EUA" e disse que tinha acreditado erradamente que poderia "mudar o mundo para melhor".
Um dia depois de ter sido sentenciada a 35 anos de prisão, Manning disse que queria viver como mulher e assumiu o nome de Chelsea Elizabeth. "Eu sou Chelsea Manning", afirmou numa declaração ao programa Today da NBC. - Sou uma mulher. Acrescentou que se sentia feminina desde a infância, que queria de vez iniciar a terapia hormonal, e queria ser abordada como Chelsea.
Em 2014, um juiz militar concedeu a mudança de nome oficial de Manning de "Bradley Edward Manning" para "Chelsea Elizabeth Manning".
Tentou-se suicidar na prisão de Leavenworth, no Kansas, em 2016. Mais tarde, foi reportado que teria sido por não lhe estarem a facultar devidamente o tratamento hormonal. Meses depois, entrou em greve de fome, tendo-a terminado quando o Exército acedeu.
Será agora libertada a 17 de Maio aparentemente para lhe dar tempo para se preparar para a libertação e para poder fazer os preparativos necessários para ter um lugar onde viver, de acordo com uma fonte administrativa anónima.
As fontes anónimas que informaram os jornalistas apontaram que cada pedido de clemência (o de Chelsea não foi o único) foi recebido pelo Ministério da Justiça (nos EUA Departamento), revisto pelo conselho da Casa Branca e aprovado pelo presidente Obama.
"As preocupações profundas que os serviços secretos expressaram sobre o WikiLeaks não tiveram qualquer influência na decisão do presidente de conceder uma comutação a Chelsea Manning", disse um funcionário, acrescentando que "Chelsea Manning aceitou a responsabilidade pelos crimes que cometeu e expressou remorso por esses crimes. Além disso, a sentença de Manning foi mais longa do que outras dadas a indivíduos condenados por crimes "comparáveis". O presidente continua a acreditar que as suas ações foram criminosas e prejudicaram a nossa segurança nacional, Mas ela cumpriu seis anos na prisão e Obama "acredita que é suficiente e decidiu comutar a sentença", disse o oficial.