Foi com indignação que o dirigente do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã reagiu ontem, no Porto, à ofensiva desferida, desde Famalicão, por Santana Lopes e Luís Filipe Menezes em torno do casamento e da adopção de crianças por casais homossexuais."A união de facto está legalmente comparada ao casamento e é assim que deve ser", sustentou Louçã, que se interroga mesmo sobre "como é que na Europa do século XXI se pode propor uma coisa diferente". "Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes entraram na senda do disparate, já não respeitam ninguém. A adopção não pode ser tratada como uma anedota política por esses dois responsáveis", condenou Louçã ao ser confrontado sobre a "ameaça", esgrimida por Menezes de que, se o BE chegasse ao governo à boleia do PS, a primeira medida seria "legitimar a adopção de crianças por casais homossexuais". Sem ter ainda a medida certa das declarações do cabeça de lista do PSD por Braga, Louçã optou, num primeiro momento, por desqualificar Menezes - "ele não conta nesta campanha". Vaticinou então a derrota de "um governo muito mau, sem credibilidade nenhuma" e rechaçou ataques, proclamando que o Bloco não vai desistir das questões que colocou na sua agenda como prioritárias: criação de emprego, combate à corrupção e à fraude fiscal, defesa do Serviço Nacional de Saúde. Depois, perante o cerco das perguntas, Louçã carregou nas tintas, acusando Menezes de "traficância de ideias" e de ser "uma espécie de salta-pocinhas nos debates políticos". Finalmente, veio a posição do Bloco sobre a adopção de crianças por homossexuais: "O país exige culturalmente a protecção das crianças, que devem ser adoptadas pelas pessoas nas melhores condições. Esse é o único ponto de partida possível (...). O BE tem uma atitude responsável: nas questões fundamentais temos de olhar para o que está a fazer a Europa e perceber que o combate a qualquer discriminação faz parte da natureza da democracia", declarou o dirigente bloquista, considerando mesmo "uma vergonha" que Santana e Menezes pretendam "tentar fazer de um pretexto discriminatório uma ideia de campanha". Pelas ruas da Baixa portuense, não foi essa, manifestamente, a preocupação que levou os transeuntes a interpelarem Louçã, durante uma silenciosa acção de campanha à qual faltou a estridência dos bombos ou de um carro de som. O emprego e a saúde eram preocupações repetidas, por entre incentivos à vitória da esquerda nas próximas eleições, algumas promessas de voto no BE, e também alguma indiferença de quem recebia a propaganda e seguia em frente.
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