Não, não estou a referir-me aos prémios atribuídos, dos quais falarei amanhã num artigo de balanço do Festival, embora possa desde já adiantar que o vencedor do Festival foi o filme brasileiro “Sócrates”, cabendo a outro filme brasileiro “Greta”, uma menção honrosa, mas como disse isso será matéria para amanhã…
E também não me refiro ao filme de encerramento, que e na minha opinião fechou o Festival sem honra ou glória. O filme escolhido foi “Skate Kitchen”, da realizadora Crystal Moselle, um filme normalíssimo sem qualquer “mais” que o catapultasse para a honra de encerrar este festival.
É um filme passado entre um grupo de raparigas apaixonadas pelo skate em que uma delas depois de se zangar com a mãe começa a viver com amigas e acaba por se apaixonar por um rapaz de cor também ele amante do skate, paixão essa que lhe traz algum dissabor, mas tudo se passa numa atmosfera juvenil, tipicamente americana e sem dramas de maior – será aquilo a que eu chamaria um filme q.b….
E muito menos essa surpresa foi o documentário “Limites” do realizador venezuelano José Torrealba, que mostra “arrastadamente” a arte de um famoso fotógrafo de nus masculinos.
Não, a grande e boa surpresa foi um filme integrado na secção Panorama, intitulado “Can You Ever Forgive Me?”, realizado por Marielle Heller e que foi nomeado este ano para três Óscares…
Para começar, não consigo entender como é que este filme não teve exibição comercial no nosso país, com tanto filme medíocre a ser estreado em detrimento de filmes desta categoria.
É um filme passado em Nova York, naquela NY que Woody Allen tão bem caracterizou em vários filmes e personagens.
As duas personagens principais do filme, interpretadas de forma superlativa por Melissa McCarthy e Richard E.Grant, que lhes valeram nomeações para os Óscares, respectivamente de melhor actriz principal e melhor actor secundário, são personagens fabulosas, principalmente a da escritora Lee Israel, vivendo uma prolongada crise de inspiração, monetária e de acentuado alcoolismo, mas que ela vai tentando combater de uma forma subtilmente irónica e até por vezes de alguma comicidade.
À falta de inspiração restou-lhe uma opção não muito ortodoxa de ganhar dinheiro, falsificando cartas e recordações de gente célebre, que é um negócio muito rentável.
Reencontra um amigo que havia conhecido anos antes, também envelhecido e preocupado com esse facto e nasce uma amizade, que depois se torna numa partilha da fraude iniciada.
Ela lésbica, ele homossexual, mas ambos sós…
É um filme tão bonito, tão bem feito, tão acutilante no seu enredo (o terceiro Óscar para que foi nomeado foi o de melhor argumento adaptado), enredo esse que a escritora pôs em livro, pondo fim à sua crise de inspiração.
Não hesito em considerar este filme como um dos melhores apresentados neste Festival, e que justo teria sido ser este o filme escolhido para o encerramento, chamando com isso a atenção para a enorme lacuna da distribuidora que não o exibiu nas salas.