O filme ainda nem foi apresentado no Brasil, onde será apresentado em Junho, tendo sido esta a sua segunda apresentação nas telas, depois de outro festival em Marselha - França.
Segundo o diretor Ricardo Alves Jr. e o roteirista Germano Melo,
é inevitável reivindicar este filme sem considerar o contexto político em que foi concebido. O Brasil é um país onde emergem forças conservadoras virulentas; as decisões sobre a vida em sociedade seguem ameaçadas por políticas de repressão, violência, combate ao prazer e estrangulamento das pulsões de vida. As representações escolhidas como forma e tema de “Parque de Diversões” não devem ser vistas apenas como questões de foro íntimo, mas como uma potência que sinaliza demandas de liberdade nos sentidos cultural e coletivo
No filme, cujo argumentista é Germano Melo, figuras anónimas percorrem as ruas de Belo Horizonte em busca de encontros, até que uma delas rompe o portão gradeado de um parque da cidade e começa a explorar as suas vias. Este território proibido é, então, semeado pelo imperativo do desejo. Esse espaço é um parque urbano, onde a vegetação tropical e os brinquedos combinam natureza, fantasia e ludicidade, atravessando o desejo, o fetiche, a busca incessante por prazer, o encontro, os fluidos corporais e o sexo, traduzindo as maneiras de ser e estar dos corpos.
Explorando o universo do cruising como território de excitação, adrenalina, segredo e alteridade, o filme reúne um conjunto performativo que aborda o corpo e as sexualidades, voyeurismos e exibicionismos, códigos fetichistas, práticas sexuais e performances não-heterocentradas, desafiando os conceitos de identidade e gênero. Entre a poesia das imagens e a dança dos corpos, o filme mostra cenas de sexo explícito, abordando sem tabus ou normas, as múltiplas possibilidades do desejo.
A cidade à noite. Figuras solitárias contornam as paredes, lançando olhares furtivos aqui e ali antes de escalarem discretamente os portões do parque. Invadindo, riffs de guitarra. Neste parque de diversões, uma heterotopia urbana onde só reinam os prazeres lúdicos, Ricardo Alves Jr encena uma noite de cruzeiro gay, terrivelmente sensual, inteiramente pontuada pelo contacto visual e pelas trocas carnais.
A câmera vai deslizando entre árvores e atrações banhadas em rosa e azul, acompanhando os movimentos de silhuetas anónimas. Ao longo do filme, nesses sucessivos encontros que imaginamos simultâneos, poucas palavras são trocadas, apenas fluidos corporais.
Nesta noite quente e pegajosa, onde a visão é preciosa, um cego recebe um relato íntimo das cenas que acontecem ao seu redor, antes de também ele ser acariciado por um homem. Não há necessidade de ver para participar desta orgia massiva onde tudo o que importa é a carne e o desejo.
Sexo bruto e prazer são mostrados sem vergonha pelo director, que brinca com fantasias e fetiches com diversão. Aqui o sexo é trazido de volta ao seu puro poder de jogo e invenção. Pois, como diz no início do filme, “Quebrar o brinquedo é brincar ainda mais. As peças viram outros jogos: construímos outro segredo - os bits tornam-se outras realidades."
O que acima de tudo me encantou neste filme é a forma magnifica como o seu realizador apresenta a acção, sempre acompanhada do local certo, da música que tão bem acompanha o ritmo do que é mostrado...
Uma completa surpresa.
Em dois dias seguidos, dois filmes que abalaram a relativa apatia com que o festival estava a ser apresentado.
Ainda bem.
Claro que não vou citar os nomes dos muitos intérpretes que emprestaram ao filme o que se lhes pedia - os corpos e os desejos consumados.
Não consegui o trailer, talvez porque o filme é muito recente e ainda não foi estreado comercialmente.