Uma exclusão cujo fim foi anunciado em Março, ao DN, pelo presidente do Instituto Português de Sangue (IPS), Almeida Gonçalves: "A tendência actual é para uma igualdade de critérios para todas as orientações sexuais, há uma recapitulação em termos internacionais sobre a matéria." Especificando que a decisão nesse sentido havia sido tomada no final de 2005 e que havia já "mandado retirar" da página de Internet do IPS o "aviso" da exclusão da dádiva dos "homens que têm sexo com homens", Almeida Gonçalves admitiu mesmo que hoje, em Portugal e em quase todo o mundo, a principal via de transmissão de uma infecção como o HIV/sida é a do sexo heterossexual, entre mulheres e homens.
Esta alteração de perspectiva, no entanto, não passou ainda à prática. Um facto que o grupo parlamentar de Os Verdes denunciou recentemente, num requerimento ao ministro da Saúde solicitando esclarecimentos sobre os critérios em vigor para a selecção de dadores. Heloísa Apolónia, a deputada que assinou o requerimento, diz ter recebido uma queixa de um homossexual que tentou dar sangue e viu a dádiva recusada. "Fomos ao site do IPS e no manual que lá estava para técnicos de saúde continuava a exclusão dos homens que têm sexo com homens. Ou seja, a informação para os dadores mudou mas a para quem faz a selecção continua igual."
Após este requerimento de Os Verdes - o segundo que fazem a este propósito, pois em 2005 tinham já solicitado esclarecimentos ao ministro da Saúde sobre o critério de selecção de dadores -, Almeida Gonçalves disse ao DN ter mandado retirar da página do IPS o dito manual. Mas reconhece que não foi enviada informação aos serviços de sangue no sentido de alterarem os seus critérios. "Ainda continuamos a trabalhar com as regras anteriores." Procedimento que é justificado com o facto de o novo manual estar ainda em elaboração. Quanto às novas regras e à forma como serão afinal enquadrados "os homens que têm sexo com homens", Almeida Gonçalves é vago: "Não lhe sei responder. Não sei dizer se um homem ter sexo com homens, mesmo se for sexo protegido, é um comportamento de risco ou não. Não posso responder ainda a essa questão sobre o que é exactamente comportamento de risco."