Enquanto isso, surgiram os primeiros atritos entre a Igreja Católica e o Governo de Prodi, depois que a nova ministra para a Família italiana, Rosy Bindi, falou sobre um possível reconhecimento das uniões estáveis. Em duas entrevistas publicadas no domingo, a titular da pasta - esta é a primeira vez que há o Ministério para a Família na Itália - falou da necessidade de "garantir os direitos das uniões civis". Bindi disse que, junto com a família tradicional, existe na Itália "um universo articulado". "Trata-se de um grande desafio conciliar os valores da família, como a Constituição define, com essa pluralidade de situações", disse Bindi aos jornais locais.
As palavras da ministra geraram críticas hoje do L'Osservatore Romano, que escreveu: "Digamos imediatamente que não admira o fato de ler a enésima evolução acrobática" sobre as uniões estáveis. Para o jornal, porta-voz oficioso da Santa Sé, é preciso fazer duas distinções: os casais heterossexuais e os homossexuais. Segundo esse órgão, trata-se de "uma distinção importante", pois "a convivência dos casais heterossexuais já está regulamentada no direito através do casamento". No entanto, o mais grave para a Igreja Católica, é que "o verdadeiro objetivo parece ser outro: a convivência entre casais homossexuais, aos quais um reconhecimento público daria uma arma formidável para dar crédito à existência de uma forma alternativa de família".
As palavras do Vaticano motivaram as críticas de alguns dos membros da União - a coalizão governamental -, como Franco Grillini, deputado e presidente honorário da Arcigay, organização que defende os direitos dos homossexuais na Itália. "Atacar, como fez o L'Osservatore Romano, a tímida proposta de reconhecimento dos direitos das uniões estáveis, adiantada pela ministra Bindi, significa ser incapaz de 'observar' o mundo que está mudando e ser cego à urgente solicitação de direitos de milhões de pessoas que vivem como casais de fato".
Os partidos democrata-cristãos e a centro-direita de Berlusconi ficaram do lado da tese do Vaticano.
Também a ministra Bindi, antecipando-se no domingo às possíveis críticas, comentou que "a Igreja não pode deixar de dizer aquilo que pensa. No entanto, a política não pode deixar de assumir a responsabilidade da mediação e da escolha".
"Não devemos nos preocupar com as palavras dos bispos, mas eventualmente por nosso silêncio", disse.