Conchita Wurst chegou ao festival da eurovisão destinada a ganhar, isto se observarmos que o caminho até aí esteve decorado com empecilhos. Foram muitas as petições e movimentos políticos, nomeadamente russos, que tentaram que Conchita não chegasse ao palco e expressasse vocalmente a letra de uma música que mais parece um hino de sobrevivência dirigido a uma sociedade repleta de “macaquinhos no sótão”.
Assim descreve por exemplo Paula Antunes do CaleidoscópioLGBT, “Vejo a vitória da Conchita na Eurovisão como a vitória de uma Europa que valoriza valores como a diversidade, o respeito, a igualdade de direitos na diferença. Vejo-a, como a própria música me inspira, como um renascer de uma Fénix arco-íris que arrasou a LGBTfobia, a discriminação e a intolerância que alguns queriam impor. Não tenhamos dúvidas: o 1º lugar de Conchita na Eurovisão é um marco na luta dos direitos humanos.”
Quando pensamos que as verdades são absolutas, que o mundo é monocromático eis que Conchita revela o que muitos sabiam e alguns tudo fazem para esconder ou incriminar. Conchita suscita ainda outra curiosidade. Quando observamos algo ou alguém, nem sempre vimos todos a mesma coisa, nem tão pouco o que vimos é o que de fato pensamos ser, que o diga Sérgio Vitorino das Panteras Rosa, Frente de Combate à LesBiGayTransfobia. Sérgio viu Conchita como uma transformista mas diz que não lhe perturba e está perfeitamente à vontade quando Conchita disse numa entrevista que se sente ou se vê como uma Drag Queen. Ainda diz Sérgio Vitorino que Conchita fez tremer, "abalou as estruturas mais conservadoras" e preconceituosas e que só por isso já valeu a pena.
Conchita Wurst de fato teve uma vitória esmagadora, pois não só venceu o festival da Eurovisão como colocou o mundo a falar dela, verdade que mais da sua imagem que da sua interpretação. Eduarda Santos, ativista no grupo Transexual Portugal, diz-nos que viu a vitória de Conchita como uma vitória contra a discriminação e a transfobia.
É da sua imagem que se fala mais que da sua música e João Teixeira Lopes, sociólogo e ex-vereador da CMP diz-nos “mudança de estereótipos de género para além do binómio masculino/feminino e desta vez entrando fundo no universo mainstream, o que faz com que uma nova atitude possa brotar num maior número de pessoas”.
Ana Raquel Rosa, presidente da Associação GIS – Grupo Intervenção Solidário, e assistente social, vai mais longe dizendo-nos que o que deve estar em causa é a prestação de Conchita e, que se tal mereceu a vitória parabéns, mas se a sua imagem suscita assim tanto debate diz Raquel, “ainda bem, pois põe as pessoas a pensar sobre um tema que se calhar nunca tinham despendido do seu tempo a pensar e, por isso já valeu a pena”.
E sobre idias e sonhos diz-nos a própria Conchita (Thomas Neuwirth) que sonha com um mundo onde não tenhamos de falar de coisas desnecessárias como a sexualidade de cada um, ou de onde vimos ou quem somos, por tudo isso e quem sabe mais “esta noite é dedicada a todos aqueles que acreditam em um futuro de paz e liberdade” disse a vencedora do Eurovisão 2014.