No melhor estilo troglodita, Lello justificou a sua posição advogando que o PS "não se pode misturar com tudo", que não pode aparecer ao lado de movimentos "marginais" e "ultraminoritários" e que os socialistas "devem concentrar as suas atenções nas questões da classe média" e não se associar à " esquerda festiva e folclórica". Lello tem todo o direito a ser homofóbico, assim como tem todo o direito, como outros políticos e comentadores, a assumir publicamente o seu profundo desconhecimento sobre as movimentações sociais e políticas do tipo do Fórum Social Português. Agora, estranho é que Lello se exponha ao ponto de, com um ataque personalizado a dirigentes próximos de Ferro Rodrigues, questionar o que é também uma herança do PS de António Guterres - foi o católico Guterres que, apesar de submeter a despenalização do aborto a referendo, legalizou as uniões de facto homossexuais. E, revelando um apurado faro político no ataque a Ferro Rodrigues, desatar a dizer alarvidades desfasadas da realidade, conseguindo transformar-se a si mesmo na notícia das jornadas. É evidente que o mundo não gira em volta dos movimentos alternativos, assim como é óbvio que as expectativas em relação às jornadas parlamentares do PS não passavam por saber qual a posição dos socialistas sobre o Fórum ou sobre os direitos dos homossexuais. Claro é também que Lello tem direito a usar todos os argumentos e todos os temas na sua crítica às opções da direcção de Ferro Rodrigues. Assim como é previsível que este deputado saia impunemente deste incidente, ainda que noutros países europeus as suas afirmações tivessem consequências. Mas convém que, quando decidir atacar Ferro, pelas opções que a actual direcção do PS faz, Lello não caia em atitudes de total primarismo político e social. É que, em princípio, um deputado não deve dizer alarvidades que demonstrem a sua ignorância e desprezo pelo que é o respeito pela diversidade e pelos direitos dos indivíduos nas democracias actuais. Já agora, o que é que Lello entende por "marginal" e por "classe média"? [SÃO JOSÉ ALMEIDA para jornal Publico]
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