«O Vaticano não gosta da sátira», dizia o diário La Repubblica. O jornal L'Unità, pertencente ao maior partido de centro-esquerda do actual governo italiano, chegou ao ponto de dar mais importância ao artigo sobre o Papa («O Vaticano não aceita piadas») do que ao que falava sobre a situação do sistema público de caminhos de ferro, que estará «à beira da falência».
Os sketches da polémica
Num programa de televisão, o comediante Maurizio Crozza aparece vestido como o papa e imita o sotaque alemão de Bento XVI, enquanto está sentado a uma mesa, acompanhado por dois membros da Guarda Suíça.
Crozza faz piada usando duas palavras que soam da mesma forma: Pax (paz) e Pacs (sigla que dá nome à polémica lei que daria aos casais de heterossexuais não casados e aos casais de homossexuais os mesmos direitos civis dos casais constituídos oficialmente).
O papa da televisão diz: «Que a pax (ou Pacs) esteja convosco». Já o verdadeiro Papa e a Igreja Católica são contrários à aprovação da lei.
Num programa de rádio, uma dupla de comediantes imita o Papa e o seu secretário, o monsenhor Geog Ganswein, um alemão de 50 anos cuja aparência de menino o transformou numa pequena celebridade nos media italianos.
Um deles diz ao outro que o papa começou a fumar três maços de cigarro por dia, «como um turco», a fim de se preparar para a viagem à Turquia. Em Itália, a frase «fumar como um turco» significa fumar muito e o verdadeiro papa não fuma.
A polémica começou na semana passada, quando o jornal católico Avennire criticou os programas de TV. Na quarta-feira, o caso chegou às manchetes de jornal depois de o secretário do Papa ter afirmado que estava farto das piadas a respeito de Bento XVI.
Apesar de alguns jornais terem defendido o papa, o L'Unità disse que quaisquer limitações à liberdade de expressão seriam algo equivalente a uma «cruzada» do Vaticano.
Mas a última palavra a respeito do episódio, considerado por alguns como uma tempestade num copo de água, talvez tenha ficado com um cartoon publicado na secção de opinião de um jornal.
No desenho, um personagem afirma que os sketches TV e de rádio sobre o Papa deixavam muito a desejar. O outro responde que, na verdade, o Papa era mais engraçado do que os comediantes que tentavam imitá-lo.