"É um discurso tipicamente feminino", classifica o sexólogo Santinho Martins, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Porquê? "Revela uma grande sensibilidade e sensualidade, uma maneira de ser e de estar que se expressam através de gestos e comportamentos femininos", explica.
Há quem defenda que a identidade de género (identificar-se como homem ou como mulher) não é determinada pelo aspecto anatómico do indivíduo, mas por factores psicológicos. Já a perspectiva orgânica entende que há factores genéticos associados. Íris Monteiro, a psicóloga clínica que faz parte da mesma equipa, prefere não generalizar - "nem todas as mulheres se comportam da mesma maneira, e o mesmo acontece com os homens" -, admitindo, no entanto, que uma mulher que quer ser homem revela um "comportamento mais agressivo e impulsivo" do que um homem que quer ser mulher. "Os segundos estão mais centrados neles próprios, preocupam-se mais com a imagem visual", explica.
É, também, uma resposta às exigências sociais, já que, supostamente, a mulher deve ter preocupações especiais com a apresentação.O que ajuda a explicar a razão pela qual os transexuais femininos-masculinos (F-M) não se preocupam com a sua aparência. Nem sequer gostam de dar nas vistas, ao contrários de muitos transexuais masculinos-femininos (M-F).O que é para ambos ser mulher? Para o transexual F-M, ser mulher é alguém com quem não se identifica e que se admira. Para o M-F "é a mesma coisa do que para qualquer outra mulher", diz Íris Monteiro, sublinhando que os conceitos de masculinidade e feminilidade mudam de cultura para cultura e que o transexual passa por vários conflitos de identidade consoante a fase de crescimento (infância, adolescência, adulto).Por outro lado, aquelas pessoas só conseguem mudar de sexo quando são adultas. "Há factores sociológicos e psicológicos a que não podem fugir. Tiveram uma experiência que a mulher não tem. A sociedade obrigou-os a desempenhar um papel e isso repercute-se no futuro", diz Santinho Martins.