Michael Gottlieb, pesquisador na universidade pública da Califórnia publicou um primeiro artigo em que descreveu a explosão "da pneumonia por Pneumocystis Carini em pacientes jovens." A nota sobre os cinco jovens foi a primeira informação oficial de uma doença que alguns anos depois seria chamada Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ou SIDA.
Mais relatos de jovens em situação clínica dramáticas se seguiram com Sarcoma de Kaposi no que parecia ser uma doença exclusivamente gay especialmente focados em cidades como Nova Iorque, Los Angeles, Toronto e Vancouver.
A cena gay destas cidades foi obliterada. Depois da liberdade sexual dos finais dos anos 60, a doença apareceu como uma praga vinda não se sabe de onde e muitos homens gays chegaram a abandonar as grandes cidades.
Em 1984 foi descoberto um retrovírus, o VIH (Virus da Imunodeficiência Adquirida), e novos dados sobre a doença começaram a ser revelados: a transmissão era possível por fluidos corporais como sangue, sémen e até o leite materno. E tornou-se também claro que a doença não olhava à orientação sexual no processo: e dispararam os casos de transmissão por via sexual heterossexual e por transfusão de sangue (ou utilização de derivados do sangue). Na lista dos infectados também passaram a ser listados os utilizadores de drogas injectáveis.
Só mais de dez anos depois dos primeiros casos é que foi possível obter uma terapia minimamente eficaz contra a progressão da doença. Até 1996 o diagnóstico de VIH+ era, na esmagadora maioria dos casos, equivalente saber que iríamos morrer bem mais cedo do que esperávamos. E era um processo lento, debilitante e, acima de tudo, humilhante para muitos.
E mesmo então o estigma da "doença gay" ainda levou muitos a fugir do tratamento com medo de serem associados à doença numa época em que ser VIH+ continuava a ser aos olhos da opinião pública o mesmo que ser homossexual.
Hoje em dia muitos destes preconceitos foram ultrapassados, mas nem todos. E em termos clínicos as consequências da infecção do VIH são controláveis com medicação específica, especialmente no caso de detecções precoces da infecção. Mas nem tudo é cor de rosa: a medicação funciona de forma diferente com cada pessoa, e alguns sofrem efeitos secundários brutais. E é necessária uma disciplina rigorosa na toma dos múltiplos medicamentos ao longo do dia. Uma falha e o vírus pode "descobrir" uma forma de ultrapassar a mesma e é necessário mudar de terapia.
Por outro lado problemas de saúde normalmente associados à terceira idade podem aparecer em pessoas mais jovens depois de anos de tratamento. Pressão arterial elevada, diabetes, problemas cardíacos e até problemas nos ossos, são alguns dos obstáculos que as pessoas seropositivas têm de enfrentar mais cedo do que o resto da população.
Portugal
Segundo os dados da UNAIDS estima-se que em Portugal vivam entre 32'000 a 52'000 pessoas com VIH. E os que estão em maior risco com são os jovens entre 15 e 19 anos, logo seguidos dos jovens entre 20 e 24 anos. A infecção em Portugal é maioritariamente masculina, mas o número de mulheres tem vindo a crescer nos últimos anos.
Mas ainda se morre de VIH/SIDA em Portugal... segundo a UNAIDS morreram em 2009 entre 100 a 1000 pessoas vítimas do vírus. Isto num país em que o sistema nacional de saúde, conhecido pela sua lentidão em algumas áreas, disponibiliza gratuitamente não só a medicação anti-retroviral como as próprias consultas. Mas também um país onde o preconceito contra pessoas VIH+ ainda é elevado mesmo 30 anos após os primeiros casos nos EUA.
Mundo
A nível mundial temos cerca de 2.6 milhões de novos infectados em 2009, e cerca de 370'000 crianças que nasceram com o vírus. Actualmente vivem cerca de 34 milhões de pessoas com o vírus em todo o mundo.
Desde de o primeiro caso que foi relatado já sucumbiram cerca de 30 milhões de pessoas.
Mas há também algumas boas notícias a nível mundial: o número de crianças com acesso a terapia anti-retroviral em 2010 aumentou 50% relativamente a 2008, e a UNAIDS considera que se está num "ponto de viragem" na luta contra o vírus ao disponibilizar a terapia a um número crescente de pessoas.
Mas a falta de informação e o preconceito ainda existem: a maioria das mulheres não tem consciência de que a utilização do preservativo é efectivo na prevenção da transmissão, enquanto três em cada quatro homens estão informados sobre o assunto. E tendo em conta este panorama não é surpresa que as complicações associadas ao VIH/SIDA são a principal causa de morte entre as mulheres em idade fértil no mundo.