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Filmes, Livros, Música

11º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa

Anos - 1978

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Domingo, 16 - 21:30
Cinema São Jorge - Sala 3
Retrospectiva
Aventuras e desventuras de Julieta Pipi ou o processo intrínseco global kafkiano de uma vedeta não analisado por Freud
Óscar Alves
Retrospectiva Cinema Gay Português Anos 70 - Longa Metragem
44 min. Portugal 1978 iCal Google Calendar
A sequencia de abertura deste Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi denuncia, desde logo, a tematica do filme. Imagens de Los Angeles dos anos 70 e uma posterior descolagem do aeroporto de LAX, dao lugar a Portela, onde a actriz de renome internacional, Julieta Pipi (Belle Dominique), acaba de chegar a Lisboa. Miss Pipi prepara-se para uma tensa conferencia de imprensa a ter lugar no seu palacio dos arredores da capital. Perante um questionario, por vezes politico, outras intelectual, ou mesmo inquisitoriamente sexual, Pipi defende-se, com sotaque italiano (influencia do ultimo filme que rodou, em Italia), a todas as provocacoes, contornando mesmo as impertinentes questoes sobre a sua formacao dramatica. Sempre com a conferencia a dar o mote, o filme opera uma sequencia de flashbacks, que nos dao a conhecer a sua obra e passadas glorias. A estrela comeca por falar de uma experiencia em Africa, num 'filme realista', rapidamente . nas suas palavras, tornado 'filme terrorista', pois acabou no hospital 'toda chupada', culpa das adversidades da rodagem. No seu primeiro filme, de registo burlesco, Pipi tambem havia terminado no hospital. Seguidamente, assistimos a uma participacao sua num musical, sob um medley onde nao faltam classicos como o 'Singing in the Rain', e com direito a apoteose final com Pipi a interpretar o 'Thatfs Entertainment', acompanhada de um arrojado coro de homens nus. Mas e no flashback final que ficamos a saber como entrou para o mundo do cinema. Previsivelmente, Pipi havia sido 'puta' e foi 'naquela casa´ onde conheceu o homem que se havia de tornar realizador, depois de a conhecer. A casa da gmadamah (Guida Scarllaty), que vive rodeada das suas gsobrinhash, revela]nos os mais bizarros encontros sexuais, mais ou menos explícitos, com curas, comendadores e outras personalidades. Temos mesmo acesso ao quarto da própria 'adama' onde ela discute com o amante, protestando pela sua indiferença e interesse exclusivo pela leitura - mas afinal o seu interesse está num homem que mantém escondido atrás da cortina. Pipi é aqui disputada por um poderoso cliente (de longo casaco de peles), que assassina o comendador, para poder passar a noite com ela. Óscar Alves consegue, com pouquíssimos meios, dirigir e coreografar um numeroso e dedicado elenco, encabeçado por Belle Dominique e Guida Scarllaty, que asseguram um ritmo vertiginoso ao filme. Belle Dominique tem um perfeito domínio dos timings cómicos (em muito derivado da sua experiência de palco), como por exemplo no momento em que, à pergunta sobre o que acha sobre a literatura, Pipi responde: 'comi uma vez e não gostei'. Mas o actor domina de igual modo uma contenção e registo mais dramático, como nos revela a cena final, com uma belíssima sequência de vários curtos takes do seu rosto, progressivamente masculinizado. Curiosa esta opção final de desmascarar o género sexual do seu protagonista / actor. J. F.

The opening sequence of Adventures and Misadventures of Julieta Pipi clearly trumpets the film's theme. Images of 1970s Los Angeles, and a departure from LAX, give way to Lisbon airport, where internationally famous actress Julieta Pipi (Belle Dominique) has just arrived. Miss Pipi gets ready for a tense press conference, to take place in her palace on the outskirts of town. Faced with questions that are at times political, others intellectual, and even frankly and inquisitively sexual, Pipi defends herself in her Italian accent (a leftover from her latest film, shot in Italy) from all provocations, and even skirts the impertinent questions on her acting background. With the press conference as its backbone, the film delves into Pipi's career and past glories through a series of flashbacks. The star begins by speaking of her experience in Africa, in a 'realist film' which soon turned into - in her own words - a 'terrorist film'. She ended up in hospital, 'all worn out', due to the adversities of filming. In her first film, a comedy, Pipi had also ended up in hospital. We then follow her participation in a musical, with a medley including classics such as 'Singing in the Rain', and the triumphant finale of Pipi singing 'That's Entertainment', accompanied by an audacious chorus of naked men. The final flashback reveals how Pipi entered the world of movies. Predictably, she used to be a prostitute, and while working at 'that house' met the man who would go on to become a director. The house of 'madame' (Guida Scarllaty), who lives surrounded by her 'nieces', reveals bizarre sexual encounters, more or less explicit, with priests, social notables, and various unsavoury characters. We even gain access to the room of 'madame' herself, where she argues with her lover, complaining of his indifference and exclusive interest in books - while said interest is actually invested in a man he keeps hidden behind a curtain. Pipi is then claimed by a powerful client (in a long fur coat), who murders an official to spend the night with her. Óscar Alves succeeds, with extremely limited means, in directing and choreographing a numerous and dedicated cast, led by Belle Dominique and Guida Scarllaty, who give the film a dizzying rhythm. Belle Dominique masters comic timing perfectly (thanks to her stage experience), such as when she is questioned as to what she thinks of literature: 'I ate it once, and didn't like it'. The actor, however, also demonstrates a notable grasp of the dynamics of a more dramatic register, as revealed by the final scene, a striking sequence of several short takes of his face, becoming more masculine. Unmasking the gender of the main character/actor is a peculiar final option. J. F.

Terça, 18 - 16:00
Cinema São Jorge - Sala 3
Restrospectiva 1
Good-bye, Chicago
Oscar Alves
Retrospectiva Cinema Gay Português Anos 70 - Curta Metragem
16 min. Portugal 1978 iCal Google Calendar
Última incursão de Óscar Alves no cinema, Good-Bye, Chicago foi rodada com o propósito específico de abrir o espectáculo com o mesmo nome no Scarllaty Club, em 1978. Assim, o filme procura ficcionar aquelas que terão sido as peripécias ocorridas nas semanas anteriores e que deram lugar ao espectáculo a que agora o público iria assistir, ao vivo. Rodado sem som, Good-Bye, Chicago abre com a aterragem de uma avião privado no aeródromo de Tires, em Cascais, que transporta três divas, para grande aclamação de uma série de populares e fotógrafos que invadem a pista. As divas disputam a atenção dos fotógrafos presentes, ensaiando diferentes poses, não prescindindo mesmo da agressão física umas às outras de forma a conquistarem cada uma a ribalta. O tratamento de luxo da diva interpretada por Guida Scarllaty dá-lhe privilégios de viatura própria, descapotável, onde, acompanhada do seu cãozinho e de uma garrafa de champanhe, segue rumo a Lisboa. Mas uma avaria no carro deixa-a apeada, tendo que recorrer à boleia das suas 'rivais', apertando-se todas no banco de trás de um outro carro muito menos luxuoso, com direito a pernas e perucas de fora da janela durante o percurso. A sequência seguinte, com um carro de bombeiros e um corpo caído na estrada, faz adivinhar o que em breve se confirma num insert da capa de um jornal que noticia a morte das divas num acidente. Excepto a interpretada por Scarllaty… Rapidamente de volta ao activo, segue-se um casting para repor o elenco do espectáculo Good-Bye, Chicago. Vários travestis femininos, e uma masculina (o Tony, interpretado por Maria José, que também integrou o elenco do espectáculo), recebem uma missiva com o convite, que os apanha nas mais diversas circunstâncias: no meio da rodagem de um filme, num momento de intimidade, ou mesmo em plena mesa de operações, a meio de uma cirurgia. Para este segmento, Óscar Alves filmou uma sequência parodiando a peça de teatro A Verdadeira História de Jack, o Estripador (1977), em cena em Lisboa na altura e interpretada por Ana Zanatti e Zita Duarte. Na sequência final, todos e todas se reúnem no Scarlatty Club, e acaba o filme para se dar início ao Good-Bye, Chicago. J. F.

The last film directed by Óscar Alves, Good-Bye, Chicago was devised to open the show of the same name at the Scarllaty Club in 1978. The film is therefore the fictional version of the perilous events of the weeks that preceded it, events that resulted in the show which the audience was about to see live on stage. Filmed with no sound, Good-Bye, Chicago opens with the landing of a private plain at Tires airport, in Cascais; its three passengers, acclaimed by a multitude of fans and many photographers who invade the landing strip, are three divas. The three vie for the attention of the photographers, striking various poses, and even resorting to physical aggression in order to gain the spotlight. The diva played by Guida Scarllaty receives luxury treatment: she is whisked off towards Lisbon in her own convertible, with her puppy and a bottle of champagne in hand. When her car breaks down, she is forced to accept a ride from her 'rivals'; the three squeeze in the back of a much more modest car, with their legs and wigs sticking out of the car windows during the trip. The following sequence, showing a firemen's car and a body lying on the road, suggests what is soon confirmed by the insert of a newspaper headline, announcing the death of the divas in an accident. Except for the character played by Scarllaty… Soon returning to work, she organises a casting session for the show Good-Bye, Chicago. Several female transvestites and a male one (Tony, played by Maria José, who was also part of the show's cast), receive an invitation in the most unexpected circumstances: while shooting a film, during a moment of intimacy, or even on the operating table, while undergoing surgery. For this specific segment, Óscar Alves also used a sequence which parodies the theatre play A Verdadeira História de Jack, o Estripador (1977), playing in Lisbon at the time and staring Ana Zanatti and Zita Duarte. In the final sequence, all are reunited at the Scarlatty Club; the film ends, and Good-Bye, Chicago begins. J. F.

Terça, 18 - 18:30
Cinema São Jorge - Sala 3
Retrospectiva 2
Aventuras e desventuras de Julieta Pipi ou o processo intrínseco global kafkiano de uma vedeta não analisado por Freud
Óscar Alves
Retrospectiva Cinema Gay Português Anos 70 - Longa Metragem
44 min. Portugal 1978 iCal Google Calendar
A sequencia de abertura deste Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi denuncia, desde logo, a tematica do filme. Imagens de Los Angeles dos anos 70 e uma posterior descolagem do aeroporto de LAX, dao lugar a Portela, onde a actriz de renome internacional, Julieta Pipi (Belle Dominique), acaba de chegar a Lisboa. Miss Pipi prepara-se para uma tensa conferencia de imprensa a ter lugar no seu palacio dos arredores da capital. Perante um questionario, por vezes politico, outras intelectual, ou mesmo inquisitoriamente sexual, Pipi defende-se, com sotaque italiano (influencia do ultimo filme que rodou, em Italia), a todas as provocacoes, contornando mesmo as impertinentes questoes sobre a sua formacao dramatica. Sempre com a conferencia a dar o mote, o filme opera uma sequencia de flashbacks, que nos dao a conhecer a sua obra e passadas glorias. A estrela comeca por falar de uma experiencia em Africa, num 'filme realista', rapidamente . nas suas palavras, tornado 'filme terrorista', pois acabou no hospital 'toda chupada', culpa das adversidades da rodagem. No seu primeiro filme, de registo burlesco, Pipi tambem havia terminado no hospital. Seguidamente, assistimos a uma participacao sua num musical, sob um medley onde nao faltam classicos como o 'Singing in the Rain', e com direito a apoteose final com Pipi a interpretar o 'Thatfs Entertainment', acompanhada de um arrojado coro de homens nus. Mas e no flashback final que ficamos a saber como entrou para o mundo do cinema. Previsivelmente, Pipi havia sido 'puta' e foi 'naquela casa´ onde conheceu o homem que se havia de tornar realizador, depois de a conhecer. A casa da gmadamah (Guida Scarllaty), que vive rodeada das suas gsobrinhash, revela]nos os mais bizarros encontros sexuais, mais ou menos explícitos, com curas, comendadores e outras personalidades. Temos mesmo acesso ao quarto da própria 'adama' onde ela discute com o amante, protestando pela sua indiferença e interesse exclusivo pela leitura - mas afinal o seu interesse está num homem que mantém escondido atrás da cortina. Pipi é aqui disputada por um poderoso cliente (de longo casaco de peles), que assassina o comendador, para poder passar a noite com ela. Óscar Alves consegue, com pouquíssimos meios, dirigir e coreografar um numeroso e dedicado elenco, encabeçado por Belle Dominique e Guida Scarllaty, que asseguram um ritmo vertiginoso ao filme. Belle Dominique tem um perfeito domínio dos timings cómicos (em muito derivado da sua experiência de palco), como por exemplo no momento em que, à pergunta sobre o que acha sobre a literatura, Pipi responde: 'comi uma vez e não gostei'. Mas o actor domina de igual modo uma contenção e registo mais dramático, como nos revela a cena final, com uma belíssima sequência de vários curtos takes do seu rosto, progressivamente masculinizado. Curiosa esta opção final de desmascarar o género sexual do seu protagonista / actor. J. F.

The opening sequence of Adventures and Misadventures of Julieta Pipi clearly trumpets the film's theme. Images of 1970s Los Angeles, and a departure from LAX, give way to Lisbon airport, where internationally famous actress Julieta Pipi (Belle Dominique) has just arrived. Miss Pipi gets ready for a tense press conference, to take place in her palace on the outskirts of town. Faced with questions that are at times political, others intellectual, and even frankly and inquisitively sexual, Pipi defends herself in her Italian accent (a leftover from her latest film, shot in Italy) from all provocations, and even skirts the impertinent questions on her acting background. With the press conference as its backbone, the film delves into Pipi's career and past glories through a series of flashbacks. The star begins by speaking of her experience in Africa, in a 'realist film' which soon turned into - in her own words - a 'terrorist film'. She ended up in hospital, 'all worn out', due to the adversities of filming. In her first film, a comedy, Pipi had also ended up in hospital. We then follow her participation in a musical, with a medley including classics such as 'Singing in the Rain', and the triumphant finale of Pipi singing 'That's Entertainment', accompanied by an audacious chorus of naked men. The final flashback reveals how Pipi entered the world of movies. Predictably, she used to be a prostitute, and while working at 'that house' met the man who would go on to become a director. The house of 'madame' (Guida Scarllaty), who lives surrounded by her 'nieces', reveals bizarre sexual encounters, more or less explicit, with priests, social notables, and various unsavoury characters. We even gain access to the room of 'madame' herself, where she argues with her lover, complaining of his indifference and exclusive interest in books - while said interest is actually invested in a man he keeps hidden behind a curtain. Pipi is then claimed by a powerful client (in a long fur coat), who murders an official to spend the night with her. Óscar Alves succeeds, with extremely limited means, in directing and choreographing a numerous and dedicated cast, led by Belle Dominique and Guida Scarllaty, who give the film a dizzying rhythm. Belle Dominique masters comic timing perfectly (thanks to her stage experience), such as when she is questioned as to what she thinks of literature: 'I ate it once, and didn't like it'. The actor, however, also demonstrates a notable grasp of the dynamics of a more dramatic register, as revealed by the final scene, a striking sequence of several short takes of his face, becoming more masculine. Unmasking the gender of the main character/actor is a peculiar final option. J. F.

Programas para maiores de 18 anos - Esta secção é meramente informativa, verifique eventuais alterações de programa junto da organização do festival.
Bilhete Normal - Sala 1 e Sala 3 - 3.00 EUR (2.00 EUR para membros de associações LGBT).
Sala 2 - Grais com levantamento prévio de bilhete.
 
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11º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa

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