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Quinta-feira, 10 Setembro 2015 19:41

ENTREVISTA
Como é ser gay na Marinha Portuguesa



O PortugalGay.pt entrevistou o Mário que nos fala um pouco da sua vida civil e militar, apresentando-nos um lado mais cor-de-rosa de um militar de carreira.


Natural de Cascais, 24 anos, marinheiro de profissão, um homem também da música.

PG - Como foi crescer e viver em Cascais?

M - Cascais permite ter uma boa qualidade de vida para uma grande parte da sua população. Posso por isso dizer que cresci num lar protegido e estável onde fui e sou amado.

PG - Tens algum acontecimento dessa época que te tenha marcado?

M - Que me venham assim à cabeça, tenho dois: quando os meus pais estiveram para se divorciar (eu tinha 12 anos) e quando eu me assumi perante a minha mãe aos 15.

PG - quando eras uma criança, não que sejas velho hoje, que sonhos tinhas? Tipo que desejavas ter e ou vir a ser?

M - Sempre quis seguir a música ou algo que envolvesse as artes do espetáculo. Cantar é uma das minhas paixões. Participei em alguns projetos musicais durante a adolescência, também. Ainda hoje a música faz parte da minha vida. Neste momento canto num coro: o Saint Dominic's Gospel Choir. Anteriormente fiz parte de um projeto a solo da minha antiga professora de música, Joana Pedro, onde participava como teclista, Fiz parte do grupo de Dança e Teatro da Escola (2006-2009) onde fizemos adaptações de peças como o My Fair Lady e o musical Mamma Mia e fui vocalista numa outra banda, que se chamava Fate.

PG - O coro que fazes parte hoje, como é para ti, o que sentes quando atuas?

M - É espetacular! A sensação é indescritível! O coro para mim é como se fosse família. Quando canto com eles sinto como se pertencesse a algo maior. O coro é para mim, a minha melhor fuga ao stress do trabalho do dia-a-dia.

PG - como surge a Marinha na tua vida?

M - Como mencionei anteriormente, eu cresci num ambiente estável e protegido. Por isso é perfeitamente normal que eu queira para mim o mesmo quando tiver a idade dos meus pais. Na Marinha isso é possível com a entrada para os Quadros Permanentes.

PG - Queres dizer que a Marinha surge como um projeto de estabilidade?

M – Exacto

PG - E como foi a decisão de entrar na Marinha? Foi algo forçado ou era um desejo teu?

M - Forçada? Não... Desejava ansiosamente por isso? Também não. Só comecei a considerar a entrada para as Forças Armadas depois de fazer os dezoito anos de idade. Na altura estava a estudar no Instituto Superior Técnico em Lisboa no curso de Engenharia Química. Mas estava descontente com o curso. Tentei Biomédica mas não entrei por meia décima. Acabei por desistir do curso no meu segundo semestre. Confesso que perdi um pouco a motivação para estudar e por isso decidi começar a trabalhar. Após ter ido ao Dia da Defesa Nacional achei que o ingresso nas Forças Armadas era uma boa ideia.

E como é ser-se homossexual na Marinha?

M - Muito sinceramente eu não penso muito nisso. A Marinha, como Instituição, não se preocupa muito pela orientação sexual dos seus militares, pois considera-a algo do foro privado. Eu sigo um pouco essa linha. Sou algo reservado e por norma deixo a minha vida privada fora do meu meio profissional. Os meus camaradas sabem que eu sou homossexual e pouco ou nada mais... Detalhes da minha atividade sexual e afetiva ficam fora do Portão Verde (Entrada Principal do Alfeite). E avanços sexuais dentro da Instituição que é a Marinha, tanto da minha parte como de terceiros, não os permito, nem os acho aceitáveis.

PG - Não te vias a ter uma relação afetiva e amorosa com um camarada?

M - Não digo que não o faça um dia, mas teria que ser com alguém fora do meu local de trabalho ou da minha unidade. A última coisa que eu quero fazer é misturar vida emocional/sexual com a profissional.

PG - alguma vez te foi complicada a relação com os teus camaradas, devido à tua orientação sexual?

M - Estaria a mentir se dissesse que não: há sempre alguém que acha que a homossexualidade e o meio militar são incompatíveis. Tive exemplos de desconfiança e uns olhares de lado podem por vezes tornar a comunicação com algumas pessoas difícil. E discussões ocasionais sobre assuntos LGBT como o casamento gay ou adoção de casais do mesmo sexo.

PG - alguma vez foste assediado?

M - Sim. Uns alpalpões aqui, umas piaditas ali... Num meio tão masculino como a Marinha, quem é assumido, está sempre a jeito para tal. No meu caso, nunca apanhei uma situação de escárnio onde eu me sentisse mesmo mal. Os homens, por si só, são gozões. Oiço umas piadinhas de foro sexual de vez em quando, mas acredito que não são com intenção de me magoar.

PG - Já foi mais masculino, hoje também há mulheres... elas também te assediam?

M - A mim não. Mas imagino que uma camarada lésbica possa vir a ser mais alvo de preconceito. Regra geral, penso eu de que, as mulheres não se sentem tão "ameaçadas" por homens homossexuais como por lésbicas.

PG - Da tua experiência dirias que os teus camaradas são pessoas "gay friendly"?

M - Não posso falar por todos os militares de Marinha. Mas por aqueles que eu conheço e interajo todos os dias, cerca de 80% consigo considerar que sejam "gay friendly". Mas penso que isso seja pelo facto de me conhecerem a mim e conhecerem mais de perto uma situação de homossexualidade a bordo. Quando destacar para outra unidade a realidade poderá não ser a mesma, mas acredito que à medida que houver mais gente a chegar-se à frente com a sua orientação sexual, haverá mais aceitação por parte dos outros.

PG - E os 20% que não são "gay friendly" como os classificarias?

M - Socialmente, existe uma certa distância entre mim e esses 20%. Não dou muita conversa a essas pessoas a não ser que seja por motivos profissionais. Até porque, como já referi, sou alvo de desconfiança e alguns olhares de lado. Mas tenho orgulho em dizer que já consegui mudar mentalidades a bordo. Se não o tivesse feito, possivelmente em vez de 80% seria 40%. Acredito que 40% é a percentagem total de militares de toda a Marinha que seja "gay friendly".

ENTREVISTA: Como é ser gay na Marinha Portuguesa

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