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Aberto
Prosa

Fado em Silêncio

Jul 1997

O Mundo encontra-se cada vez mais sozinho... Já não há palavras soltas de amor e carinho, há apenas o ódio no ar, a tristeza, a solidão das almas.

Sim, o Mundo preocupa-me. A realidade custa a aceitar mas principalmente custa a viver.

Quando acordo, encontro forças para lutar junto ao amor dos outros Homens. Ao amor que não é entendido, ao silêncio de um coração que não se pode abrir ao Mundo.

Sem amarras e sem entraves na voz, mostro o que eu sou mostro o que os outros querem ser. Desembarco na praia da vida, duma praia com areia negra e escura... e corro... corro à tua procura. Oh! Justiça do Mundo, oh! Castelo de Ilusões que eu luto para que seja verdade.

Porque é que não se olha o outro com olhos de tolerância e compreensão? Porque é que as minorias são postas à parte e desculpadas por insanidade mental? Porque é que é tão difícil viver nesta realidade? Porque o Sol não é pai de todos os Homens, mas a lua continua a brilhar na noite para a escuridão.

Nem a poesia consegue responder aos males do Mundo. O poeta procura a realidade, fugindo do sofrimento, mas mesmo assim não entende.

Não, o Mundo não percebe. Eles não amam de propósito, eles não fingem, não querem ser desprezados, eles só querem viver. Mas ninguém os entende, ninguém os quer ver. E eles passam a viver num túnel de solidão, num buraco sem fim escavado no centro do Mundo. E toda a gente o tapa para esconder, para jungir que não sabe, para perder a pena e o ódio.

Ama quem tu quiseres!

Eles só obedecem a esta frase, à lei da vida, à lei do espirito. Amar é dar ao outro um pedaço de nós... um pedaço do Mundo.

Sim, o Mundo mata-os. E eles morrem, sem rosas, sem choros, sem perda. Só com a pena de ter vivido.

Eles...

Eles ganham vida ao pé de mim, mas as minhas forças já voaram com o vento. Mas continuo a lutar contra os fantasmas das almas podres. Rodeia-nos olhares de discriminação, palavras de ódio, dor e tristeza. Só nos sobra a solidão, o refúgio, o abismo para onde caminhamos.

Não, o Mundo não muda, e a luta quando acaba?

Rita (Lua)
 
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