Set 2003
Esta mensagem foi recebida anonimamente através de um formulário on-line em http://www.portugalgay.pt/mail/
Em resposta a alguns comentários pseudo inteligentes e pseudo intelectuais que aqui foram feitos, gostaria de deixar alguns temas para reflexão:
1º) Por incrível que vos possa parecer, nem todos os que criticam este site são "pessoas mentalmente doentes" com necessidade de tratar dos seus "problemas psicológicos junto de bons profissionais" (suponho que para vocês um destes bons profissionais é o tal que dá consultas em associações gays, mas que não consegue assumir-se e, por isso, lá anda fazendo tristes figuras pelos urinóis do Rossio...).
Esta táctica de tentar calar e lançar o descrédito sobre o "inimigo" acusando-o de incapaz ou mentalmente doente, já é tão velha como o cagar e só gente muito estúpida (ou desesperada com falta de argumentos) ainda se atreve a usá-la. Quanto mais não seja, porque todos têm direito a expressar a sua opinião (sejam quais forem as suas doenças mentais), cabendo aos outros a escolha de considerar, ou não, essa opinião digna de crédito.
Aliás noto muitas semelhanças entre a vossa táctica e a utilizada pelo Carlos Candal que, derrotado pelo Paulo Portas num debate televisivo, o acusou de pertencer a um suposto lobby gay, de molde a tentar desacreditá-lo perante o eleitorado.
Além do mais, num país em que, por exemplo, a Juventude Socialista pede a demissão do seleccionador nacional Oliveira, por este ter afirmado que "não existem gays no meio futebolístico", mas se cala muito bem caladinha quando o deputado socialista Candal afirma constante e publicamente que "cada vez há mais panascas e há gajos que fazem gala da sua paneleirice", parece-me que as fronteiras entre o mentalmente doente e o mentalmente saudável devem estar muito esbatidas, para que ninguém estranhe sequer "o apontar do dedo e a afirmação: «Olhó panasca» L.B"
2º) Quanto ao "sem nunca terem tido a coragem de nada fazer para que exista algo notoriamente melhor, passando pelo simples facto de não serem capazes de dar uma simples sugestão válida e aplicável ao mundo GLBT, no sentido de o tornar mais digno perante a restante sociedade", gostaria de lembrar que seria mais fácil fazer sugestões válidas e aplicáveis se estas não corressem o risco de ser constantemente apagadas e censuradas pelos donos do site. Mas o problema nem sequer é esse. O problema é que num país em que é manifestamente impossível manter um fórum minimamente decente (como o PG teve ocasião de comprovar), em que as associações são uma palhaçada e em que os gays conseguem ser ainda mais preconceituosos que alguns heteros (veja-se o caso do Isidro Sousa e aquela polémica sobre um editorial em que se regozijava por haver menos drag queens no gay pride e mais gente "normal") uma pessoa sente-se completamente desorientada e só lhe apetece ter uma varinha de condão para poder fazer milagres.
E vergonha deveriam ter os que jamais abriram a boca contra os que utilizavam o fórum apenas para colocar mensagens de sexo ou mensagens ofensivas de teor homofóbico, mas que agora têm a lata de dar lições de moral como se fizessem muita coisa pelo "mundo GLBT, no sentido de o tornar mais digno perante a restante sociedade".
Parece-me até muito suspeito que só agora (que se começou a fazer criticas ao PG) estas criaturas tenham resolvido dar um ar da sua graça. Até dá a impressão que são os responsáveis do PG quem escreve estas mensagens.
3º) Continuo a achar que seria muito mais interessante lançar como tema de debate a criação da escola gay do que as festas de espuma ou o anátema do Papa sobre as uniões gay. Quanto mais não seja porque deste Papa ninguém (no seu perfeito juízo) espera coisíssima nenhuma (de bom), por isso nem sequer dá para debater.
Simultaneamente acho estranho que achando vocês este tema do anátema do Papa assim tão importante, o tenham preterido em favor de um tema frívolo como o das festas de espuma de um dos vossos anunciantes. Mas tudo bem. Cada um sabe o que mais lhe convém... Não se admirem depois com as criticas que vos são dirigidas.
4º) Em relação ao impagável L.B. que, num acesso de mau gosto (e ainda pior literatura) resolveu arrotar aquela do "por via de outros gays que não passam de pessoas mentalmente doentes. Dê-se apoio a essa «gente»; defenda-se a dignidade humana. Se nada for feito, não estranhem o apontar do dedo e a afirmação: «Olhó panasca»", sugeria-lhe que se visse ao espelho, comesse mais peixe (que dizem que faz bem ao cérebro) e fosse um pouco mais humilde, pois não vejo nele nenhuma qualidade que lhe permita sentir-se superior a essa "gente", muito pelo contrário só vejo nele um ser maldoso, estúpido e hipócrita (além de impune, arrogante e ignóbil).
Em Espanha o deputado socialista hetero Llamazares, que defende os direitos dos glbt, foi chamado de maricón por um deputado do PP e teve o bom senso de responder que ninguém o ofendia por lhe chamar maricon. Por cá são os próprios gays que são suficientemente idiotas para julgar que nos ofendem chamando-nos panascas... Até dá vontade de responder "olha a grande novidade. Não me digas que és tão burro que só agora descobriste".
Ao deparar-me com estes delírios de superioridade lembrei-me de outra pérola que li pelos fóruns espanhóis e que deixo à vossa apreciação. Desconfio que não vai servir de muito, mas como agora se tornou uma frequência muito fashion lançar pérolas a porcos, aqui vai:
YO NO SOY GAY
Me parece lamentable que para exigir derechos tan necesarios como el matrimonio o la adopción haya que montar un espectáculo de vedettes y cabareteras de baja alcurnia, todo ello aderezado de musculocas comiendose la boca.
Si queremos seriedad para con nosotros no me parece que sea esta la imagen más adecuada.
Tengo 24 años, soy de Sevilla y desde los 14 no he ocultado a nadie mi opción sexual.
Si algún día me apetece burraquear lo hago en su momento y su lugar, pero ante todo soy una persona seria y normal, como el resto de los mortales.
Pienso que el ser homosexual (porque si ser gay es lo que se refleja en las manifestaciones de este día yo no lo soy), no es un valor del que deba sentirme orgulloso, es simplemente la opción sexual que yo he elegido libremente, y lo que realmente me enorgullece son mis logros personales.
Por supuesto que es importante la lucha por nuestros derechos, pero muchas veces somos nosotros los que nos automarginamos,
Soy homosexual todos los días desde que me levanto hasta que me acuesto, no uso ropa fashion, y tengo amigos hetero con los que me divierto mucho, y ante todo lucho por mis derechos todos los días demostrando que soy una persona seria, formal, culta, educada, paro ante todo, un chico más que dista poco del resto y al que su condición de homosexual ni le acompleja ni le hace refujiarse en ghetos de mariquitas locas.
Un saludo.
RESPOSTA: YO TAMPOCO SOY GAY. MACHOTE! MACHOTE!
Yo tampoco soy gay. No he ocultado nunca mi homosexualidad a mis amigos heteros y nunca he estado en ningún ghetto. Ha sido difícil. En mi pandilla tengo amigos heteros y gays, pero eran todos españoles así que me hice amigo de un alemán para no estar en un ghetto español, ahora mismo estoy buscando un amigo chino para que no digan que estoy en un ghetto europeo. Yo también soy una persona seria, formal, culta, educada, recta, circunspecta y antropoforma. Gracias a eso mis amigos me pusieron en un altar desde el que distingo quien es políticamente correcto (y tiene derecho a manifestarse) y quien es una mariquita loca fashion zarrapastrosa claustrófoba gasterópoda.
Yo tampoco me enorgullezco de ser gay, el orgullo es un sentimiento malo de gente malvada. Por ejemplo: un padre que se siente orgulloso de su hijo es un monstruo que debe ser corregido. Hay que volver a los buenos tiempos donde ningún gay se sentía orgulloso en este país. Un tiempo donde los gays iban a la cárcel en silencio y no protestaban por las torturas policiales. Eso de que el orgullo es una estrategia que nos ha permitido modificar esa situación es una mentira mas de las mariquitas locas perversas retorcidas viles oleaginosas y merovingias.
Así pasa luego lo que pasa, si todos fuésemos tan perfectos como tú y como yo no veríamos esos horrores en las manifestaciones del orgullo gay. No veríamos esas mariquitas locas aborrecibles juntando sus musculosos cuerpazos comiéndose la boca impúdicamente. No veríamos a payasos esquizofrénicos coleópteros obstétricos. No veríamos a los cinco jinetes del apocalipsis sobrevolar la calle Alcalá repartiendo el hambre y la peste. No veríamos surgir hidras infernales de las profundidades de la fuente de Cibeles para comerse (sin ketchup) a las familias cristianas y decentes que van a la iglesia de la Encarnación.
¡Corregíos!
¡Sed como nosotros dos!
Es el único camino
Beijinhos a todos, não se sintam tão histéricos nem tão ameaçados com as minhas criticas.
anónimo
16 Set 2003
Alguns esclarecimentos pelo PortugalGay.PT
Independentemente de concordarmos ou não com as questões apresentadas nesta mensagem devemos esclarecer o seguinte:
As mensagens de apoio ao PortugalGay.PT não foram escritas pelas responsáveis do PortugalGay.PT: sempre que o fizemos identificamo-nos de forma visível.
O facto de termos escolhido o tema das festas da espuma não tem nada de estranho: durante este verão aconteceram diversas festas da espuma quer em Lisboa quer no Porto e chegamos mesmo a colaborar com uma delas. Infelizmente (para a nossa carteira) ainda não é "um nosso anunciante".
Quanto às sondagens teremos todo o gosto em considerar a edição de algum dos temas assinalados bastando para tal que o anónimo nos envie as perguntas e respostas da respectiva sondagem.
E se há um ponto em que concordamos é na questão do forum (que não funcionou de todo) e na necessidade de tornar possível aos utilizadores do site expressarem publicamente as suas opiniões. Este espaço assim como os
novos rodapés de opinião recentemente introduzidos são um passo na direcção de uma maior participação de todos no PortugalGay.PT.
João Paulo
Editor
16 Set 2003
Comentário de João (maguskrool@hotmail.com)
O comentário que se segue refere-se em boa parte a um outro feito por um visitante anónimo, publicado neste site em 16/09/2003.
Concordo em parte com o que é dito acerca das associações GLBT, porque no geral a ideia que transparece é que funcionam mais como rivais do que em conjunto, e no nosso panorama a união de esforços é crucial. Não digo porém que sejam inutéis, até porque nos bastidores muitas vezes se travam batalhas das quais nunca ninguém ouve falar, mas cujos resultados têm profundo impacto nas vidas de todos. Pessoalmente não estou ao corrente da agenda específica destas associações, nem pertenço a nenhuma delas, logo também não me sinto na posição de criticar tão cruelmente o trabalho que os outros fazem por mim e também para mim.
Não sinto que faça muito para incutir uma maior noção de tolerância na nossa sociedade nem para combater a homofobia, mas faço o possível, como tantos outros. Durante a minha curta vida já consegui chegar até a algumas pessoas das quais ao princípio não esperava progressos e isso já foi uma pequena mudança para melhor na sociedade. Sim, é verdade que muitos gays conseguem ser homofóbicos, tal como muitos dos que se queixam de serem vítimas de racismo também são racistas. A história mostra que nem todos aprendem com os erros nem com as situações pelas quais passam. É triste, mas é assim... realmente a varinha de condão dava muito jeito, não há "fairy" no mundo que tenha uma.
Quanto aos temas das sondagens, é natural que não agradem a todos e que alguns nos pareçam fúteis, mas é bom lembrar que o interesse destes temas é também subjectivo. Por exemplo, concordo que a sondagem acerca de festas de espuma possa ser uma mera curiosidade de pouca importância (e na minha opinião deverá ser encarada com essa pouca importância), mas já considero que assuntos referentes aos comentários do Papa poderão dar início a debates de grande interesse. O Papa, independentemente do seu estado de saúde, continua a influenciar milhões de pessoas por todo o mundo, pessoas que seguem à risca cada uma das suas palavras. Essas pessoas lidam connosco no dia a dia e se o Papa lhes dissesse que dois mais dois são cinco, muitos acreditariam, por muito que vissem provas do contrário. O fervor religioso ultrapassa muitas vezes o senso comum e certas pessoas recusam-se a dar ouvidos a qualquer facto que vá contra a sua religião, não ousam questionar as palavras sagradas que regem as suas vidas. Aqueles comentários que para muitos de nós nos parecem ridículos são encarados com extrema importância por outros, outros com quem temos de viver. Outros que são muitos e que nos podem magoar.
O tema da "escola gay" despertou-me o interesse mas gostaria que o autor do comentário explicitasse melhor o que pretende dizer com isso.
Concordo plenamente com o 4º ponto do comentário, e o excerto do fórum espanhol é divino, sem dúvida uma pérola.
Abraços para todos, caso queiram discutir algum assunto comigo, o meu nome é João e o meu e-mail é
maguskrool@hotmail.com.
17 Set 2003