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A importância do corpo, a importância da sensualidade, a hiper-importância da sexualidade numa relação lésbica



Nov 2000

Clube Safo

Ter fome, sede, calor, frio, cansaço, sono, medo, desejo, prazer ou dor, enfim.. tudo é natural, natural e observável em todo o reino animal, havendo para cada espécie as suas especificidades. Na nossa sociedade há uma presença forte da cultura judaico-cristã onde o prazer é pecado, nos homens, embora perdoável, mas ... nas mulheres... não existe!

Recordo aqui o filme "O rei pasmado", onde, com muito humor, se criticam alguns preconceitos da Igreja Católica, infelizmente bastante actuais. Recordo exactamente, para quem viu o filme, a cena em que, um casal tem relações sexuais na igreja, durante a missa, porque pretendiam ter filhos e o facto de terem "prazeres" durante a copula, principalmente a parte feminina, era castigado com a ausência de filhos.

Logo, eu que pretendia falar sobre a sexualidade numa relação lésbica, fico, nesta perspectiva, sem assunto, uma vez que não posso seriamente falar sobre o que não existe, sobre um "nada" ao quadrado.

Sexualidade versos sensualidade versos desejo, espero que esta seja a "bandeira" em arco íris de qualquer lésbica, uma vez que já fizeram, assumindo perante si próprias as suas opções, a travessia solitária dos preconceitos.

Terão feito? (se não o fizeram proponho ao clube Safo um seminário sobre o tema - o corpo)

Falemos a sério, falemos de seres livres, do corpo do prazer da sensualidade da sexualidade. Ama-se com o corpo todo em qualquer relação amorosa.

Infelizmente as mulheres ainda apresentam grandes dificuldades em lidar com o seu próprio corpo, mesmo que se trate de mulheres lésbicas, muito por culpa de uma publicidade enganosa que tenta vender uma imagem "doente" de mulheres sem formas, "perfeitas", bem vestidas, maquilhadas, perfumadas, sem cansaços ou desesperos, saudáveis e em plena forma, a qualquer hora do dia (ou noite).

Mas, se não se acham belas e sensuais mesmo no meio dos seus pneuzinhos, dos seis descaídos ou de outro qualquer desvio padrão da moda, como vão poder entregar-se nesse "invólucro" mal amado que é o seu corpo? Se pareço só falar de corpos quando o tema é a sexualidade é exactamente porque sei que o corpo é o início e o fim em si do prazer. Não tenhamos a doce ilusão de que se dá prazer ao outro, ou que se lhe entrega o corpo.

O corpo é o nosso objecto de prazer, no bom sentido, não se entrega, usa-se como meio de transmitir o que se recebe, mas mais importante ainda, o que se tem capacidade para receber, porque o prazer que se dá supostamente ao outro é apenas a capacidade de partilhar.

A passagem, do corpo capaz de sentir, à sensualidade e ao prazer, é um passo, um pequeno golpe de asa.

Observemos um/a geóloga; ela ama as pedras, gemas puras ou simples calhaus rolados (conglomerados moldados ao sabor da harmonia das águas, dos ventos ou do gelo), quando lhes pega, olha-as atentamente, cheira-as, passa suavemente os dedos pelas imperfeições/perfeições, sente-as como um todo, como se pudesse tomar a alma da pedra, os seu segredos. São sem dúvida gestos sensuais os que vai desenhando.

Observemos tão somente o mundo vegetal, o corpo de um choupo inclinado sobre as águas, as suas folhas descrevem movimentos plenos de harmonia numa dança sensual com a brisa, não opondo resistência à sua passagem.

O corpo só chega ao prazer e só o pode partilhar através da sensualidade se não se opuserem aos sentidos, se não permitirem que a mente com os seus fantasmas do medo, do castigo e da vergonha, o castrem.

Penso que já posso falar da importância da sexualidade numa relação lésbica. E é por pensar ser de facto um aspecto fundamental, que se vai tornando cada vez mais difícil conceber que se possa "fingir" um prazer que se não tem, ou que se inicie uma relação amorosa de caracter intimo (ou sexual), apenas porque se não tem capacidade de estar só, ou que se fale das relações passadas como se elas não tivessem sido intimas.

Por último não consigo aceitar que se não seja autentico num espaço reservado à criatividade, à improvisação, à liberdade do corpo e da alma, porque o amor entre duas mulheres deve ser vivido como uma obra de arte, como um concerto para bandolim, como uma escultura de Rodin, como um grito, como um uivo, como o odor a terra quando chove.

a.vieira

Reprodução autorizada pelo Clube Safo de artigo no Zona Livre, Nº 18, Julho 2000
 
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