Nov 2003
A Associação Académica de Coimbra vai entrar em novo processo eleitoral,
num momento de contestação estudantil em torno da questão do financiamento
do ensino superior.
Esta tem provocado "alarido" na nossa sociedade a partir de um discurso
demasiado centrado nas questões das "propinas". Acreditamos que o papel da
Associação Académica de Coimbra na universidade, e na cidade, é e deve ser
mais amplo.
São muitas as questões que se colocam hoje na sociedade portuguesa, para as
quais, e nas quais, a Associação Académica de Coimbra e a academia coimbrã
deverão intervir, promovendo diferentes acções e políticas públicas.
Algumas dessas questões encontraram-se fora, infelizmente, das agendas dos
dirigentes das instituições académicas. Aparentemente, voltarão a estar
longe da ribalta nas agendas das listas concorrentes ao próximo acto
eleitoral. Poderão estar nos programas das diferentes listas, mas
perder-se-ão nos milhares de papéis, e poucas ideias, que serão
distribuídos na universidade nas próximas semanas!
Dentro dos temas esquecidos, destacamos os Direitos Humanos e a Igualdade,
que nem como "flores na lapela", ou "discursos para encher" são (ab)usados
por parte das listas candidatas.
Qual o papel da Associação Académica de Coimbra - e da Universidade de
Coimbra - na promoção e defesa dos Direitos Humanos? Ou qual o seu papel
enquanto agente promotor de Igualdade entre todos/as os/as
cidadãos/cidadãs? E como luta contra as diferentes formas de discriminação?
Já é tempo da agenda da A s s o c i a ç ã o Académica de Coimbra ser mais
equilibrada e, por isso, mais interventiva e atenta a algumas questões
relativas aos Direitos Humanos e à Igualdade.
Afirmam diversos estudos estatísticos, relativos à frequência
universitária, uma feminização do ensino superior. Mas que têm feito a AAC
e a academia coimbrã para promoção de igualdade entre mulheres e homens?
Para quando a exigência e promoção da participação cidadã das mulheres na
governação democrática e na gestão da Universidade, ou na Associação
Académica, por exemplo, através da existência de órgãos paritários nos
diversos órgãos de gestão e na AAC? Para quando acções que realmente
promovam uma igualdade de facto, longe dos discursos e práticas sexistas a
que estamos habituados na sociedade?
A sexualidade há muito que deixou os "foros privados da opressão" e passou
a "coisa pública", fruto de ser fonte de discriminação e de "desigualdade"
de facto no acesso à felicidade. Que tem feito - e que irá fazer - a AAC
para combater a homofobia, a discriminação dos estudantes homossexuais
presente no quotidiano universitário? E que faz a AAC na promoção de uma
sexualidade livre, informada, aberta e respeitadora das diferenças?
Fazem-se campanhas de distribuição de preservativos, que são uma boa ideia!
Devem no entanto ser enquadradas em processos de (in)formação da comunidade
académica para uma sexualidade saudável, livre e solta de preconceitos.
Fruto da sua história e tradições - e de acções desenvolvidas nos últimos
anos -, a Universidade de Coimbra exerce uma forte atracção sobre
estudantes de diferentes nacionalidades, de diferentes culturas,
nomeadamente da Europa, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e
do Brasil.
Este cosmopolitismo aparente esconde, no entanto, um pouco investimento na
promoção da multi-culturalidade na academia, ou em campanhas anti-racistas
e contra a xenofobia.
Existem reais situações de racismo e xenofobia na nossa academia, que
exigem a intervenção de todos, nomeadamente dos dirigentes académicos para
a sua resolução.
Comemorações à parte - diz-se que 2003 é o Ano Europeu da Pessoa Com
Deficiência - como se pensa, e age na integração do cidadão/dã deficiente
na academia coimbrã?
Como se pensam as questões relacionadas com o estudante deficiente, como os
acessos a edifícios, à informação e à sinalética - pois, apesar de algumas
mudanças, muito há ainda a fazer!
Muito há a fazer na promoção activa dos Direitos Humanos e Igualdade, a
aplicar todo o ano, como veículos de transformação da sociedade.
É tempo por isso que a AAC assuma o seu papel nesses temas! E o período
eleitoral pode marcar a diferença!
João Barroso Martins
* e Paulo Jorge Vieira
**
* presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação juvenil não te
prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais (
jbarroso@iol.pt)
** presidente da Direcção da associação juvenil não te prives - Grupo de
Defesa dos Direitos Sexuais (
pjovieira@yahoo.com)