Jenna Talackova, de Vancouver, era uma das 65 finalistas do concurso de beleza mas foi desqualificada esta semana quando se descobriu que se tinha submetido a uma cirurgia de correcção de sexo.
Denis Davila, director do concurso, afirmou que foi excluída do concurso porque as regras estipulam que as concorrentes têm de ter nascido naturalmente femininas e que Talackova mentiu na sua candidatura. "Temos de ter os dados verdadeiros, não existe aqui qualquer discriminação," afirmou. Pode-se olhar para isto de qualquer maneira que se queira mas todos temos de seguir as mesmas regras.
Talackova não concorda e espera que algo de bom surja da sua desqualificação.
A organização removeu abruptamente o seu perfil antes de emitir na sexta-feira 23 de Março um breve comunicado dizendo que não preenche os requisitos para a competição apesar de ter escrito outra coisa na candidatura.
O que posso dizer é que estou muito desapontada com a decisão tomada pela organização do Miss World, afirmou Talackova. "Vou olhar para isto de uma forma positiva para que outras pessoas em situações similares não tornem a ser discriminadas no futuro," acrescentou numa declaração à CTV News.
Michael Gilbert, professor de filosofia da Universidade de York questionou o perguntar-se às concorrentes se eram naturalmente mulheres. Desde muito cedo que Jenna resiste ao sexo que lhe deram à nascença, afirmou Gilbert. Ela identifica-se como rapariga como se tivesse nascido desse modo. Isso é natural.
Num vídeo do YouTube, Talackova, de 23 anos, descreve o seu processo de fisicamente se tornar mulher.
"Vejo-me como uma mulher com um historial," afirmou. "sempre soube desde os meus quatro anos e iniciei o meu processo aos 14 anos. E submeti-me à cirurgia aos 19."
Talackova já tinha competido em concursos no passado e pode ser vista em vídeos online como a concorrente canadiana no concurso de beleza tailandês em 2010.
Quando Talackova apareceu entre as 65 finalistas a 12 de Março, a comunidade trans celebrou a sua nomeação. Mas depois do concurso ter anunciado a sua desqualificação, os fãs expressaram a sua indignação na página do facebook do Miss Universe Canada e exigiram à organização a sua reinclusão.
Mara Keisling, directora executiva do National Center for Transgender Equality (NCTE), sediado em Washington, questionou os motivos da organização. "É certo. Tomaram uma decisão de quererem discriminar mulheres trans," afirmou à QMI Agency.
"Mais e mais pessoas percebem que esta pessoa é uma mulher. Nada existe nela que a deva desqualificar."
Jillian Page, outra conhecida activista trans, demonstrou a sua solidariedade com Talackova num post no seu blog, Quando uma mulher como Jenna - ou eu ou outras - transicionamos, o objectivo é sermos totalmente integradas socialmente como mulheres. Não existem asteriscos ao lado do sexo nos nossos documentos oficiais: os meus dizem mulher. Não dizem transgénero, não dizem transexual, dizem mulher. ponto. Somos mulheres e merecemos os mesmos direitos que qualquer outra mulher tem no nosso país.
Para a activista trans Marie Little, o caso não é tanto de regras mas mais de aceitação. "Há muito tempo existiam campeonatos de baseball negros e brancos. Para quê enfiarem as pessoas em categorias se podem competir entre elas?", questionou.
Elementos do concurso canadiano dizem que só Donald Trump, dono do Miss Universe pode mudar as regras.
Segundo a advogada Barbara Findlay, especialista em igualdade de direitos e questões trans, é ilegal a discriminação contra uma mulher com base na sua identidade de género. Sejam quais forem as regras que Donald Trump tenha para este concurso devem-se submeter às leis do Canadá, afirmou.
O lugar de Talackova já se encontra ocupado por outra pessoa.
Talackova procura agora aconselhamento jurídico antes de voltar a falar aos media.
Mais de 30.000 pessoas assinaram uma petição online exigindo a reintegração de Talackova no concurso.