"Eles estavam contentes com o meu trabalho, desde que não dissesse nada estava tudo bem", diz Daniel, que para "evitar que boatos chegassem à directora", decidiu contar que estava num processo de mudança de sexo . Isso foi no mês de Novembro de 2012.
"Eu estava a fazer tratamento hormonal e, apesar de sempre me vestir como agora, de forma masculina, usando estas roupas (jeans, camisola de desporto) e cabelo curto", diz Daniel, que explicou à directora da secção de reabilitação, onde trabalhava, que logo iria enfrentar a última parte do processo, que viria a culminar com a mudança de nome no contrato (de Natalia para Daniel).
Desde então, foi tudo problemas. "Disseram-me que como eram crianças [têm entre 10 e 17 anos], tinham a saúde mental fraca não podiam suportar", diz Daniel, a quem a direcção, repetidamente, ofereceu "uma licença de um ano" ou "uma baixa".
"Eu fui assediado, senti que tinha que estar com mil olhos, e eu só queria continuar o meu trabalho", diz o jovem, de 25 anos, que estava surpreso que algo que não era marcante para as crianças - "eles têm visto alterações e em nenhum momento mudaram a sua relação comigo"- o era para adultos.
Depois de voltar das férias de verão, foi demitido com a alegação, de acordo com a carta que lhe foi apresentada, que "tinham constatado indisciplina e desobediência" no trabalho e "uma redução contínua e voluntária" da sua performance.
"Chegaram-me a dizer que não tinha o perfil psiquiátrico adequado, nunca tive problemas, o que aconteceu? Agora, com as hormonas tinha perdido o título de enfermeiro?", questiona. Auxiliado pelo sindicato UGT e pela deputada socialista Carla Antonelli, entrou com uma queixa "por violação dos direitos fundamentais". Após uma tentativa de reconciliação, em que os dois lados mantiveram as suas posições, o julgamento será realizado no próximo mês.
"Ele foi demitido deslealmente e traiçoeiramente, tentando evitar qualquer tipo de reacção. É um caso de discriminação clássico, especialmente com toda as provas de que Daniel não tem um único registo negativo do seu trabalho", denunciou Antonelli.
A deputada levantou a questão na Assembleia de Madrid porque a ONG "tem um acordo público pelo que recebe 1,3 milhões de euros da comunidade e está a violar o artigo 14º da Constituição, que diz que não haver discriminação baseada no nascimento, raça, sexo ou religião."
A ONG, contactada telefonicamente, recusou comentar este caso.
ÚLTIMA HORA: No seguimento dos esforços feitos por Carla Antonelli e o PSM, Daniel foi readmitido pela ONG.