O advogado Alexandre Bois tinha sido contactado para ver uma transexual presa na Brigada de San Justo e encontrou-a num pátio ao ar livre, sozinha, dormindo num colchão velho, coberta com papelão e algemada. Durante cinco dias, Johana Robledo esteve nessa situação. "A situação era abusiva, puseram-na fora da célula, porque tinham problemas com a população prisional e deixaram-na ali", relembra o advogado. Johana tinha gripe, mas o seu quadro piorou nessa fria semana de Agosto em que foi detida e o resultado foi tuberculose. Foi este encontro com a sua cliente que fez com que Bois, além de defendê-la se tornasse uma testemunha de um processo contra o pessoal da Brigade. Johana passou dois meses em diferentes lugares de reclusão, primeiro acusada de assassínio e depois de cúmplice de uma tentativa de roubo, crimes que garante não ter cometido. Quando foi libertada, teve que ser internada num hospital por um mês.
A sua mãe demorou vários dias para saber o porquê de estar incomunicável. A procuradora Cecilia Cejas, da UFI 1, acusava-a de "homicídio durante assalto" por um incidente de há três meses.
Nessa altura Johana Robledo vivia com o seu companheiro, Marcos, de 18 anos, nos fundos da casa da família do jovem em La Matanza. Não tinha um bom relacionamento com a sua sogra, mas esta não os incomodava. Afinal, Johana contribuía com a sua parte do dinheiro para a casa, primeiro fazendo a limpeza de uma casa, vendendo roupas na feira de La Salada depois. No entanto, a 26 de Maio, um crime acabou com a paz em casa.
Gustavo Cáceres, o irmão do companheiro, tinha uma mota nova em que se passeava no bairro, e dois rapazes apareceram e tentaram roubá-la. Gustavo reagiu e recebeu um tiro fatal. Os ladrões não levaram a mota. "A única testemunha foi Johana, porque o namorado dela estava a dormir. Ela sabia que um dos assaltantes era um miúdo do bairro. Quando a polícia chegou, ela levou-os ao lugar onde morava e depois ajudou a identificá-lo, mas a polícia não os deteve", disse a mãe.
Dois meses depois, a mãe de Robledo denunciou-a como cúmplice no roubo. A procuradora levantou a parada e imputou-lhe o homicídio. A teoria é que Johana tinha informado os ladrões e facilitado a sua entrada. O juiz de Garantías, Raul Ricardo Antunes, aceitou a acusação e emitiu a ordem de prisão preventiva.
A polícia foi buscá-la a 7 de Agosto. A mãe de Johana informou que a sua filha estava doente, tinha muita febre e tomava Tamiflu, porque suspeitava que tinha sido infectada com a gripe A. Quando chegou à Brigada de San Justo, foi colocada com os presos comuns. "Atiravam-me água, assediavam-me o tempo todo, a verdade é que a situação era perigosa. Pedi-lhes para que me levassem para outro sítio, estava com medo que me matassem. Então fui colocada no quintal. No início, deram-me apenas água, nunca algo quente, nem sequer chá", disse Johana. A sua saúde piorou. "Apanhou tuberculose" afirmou a mãe.
A próxima paragem foi na delegacia em Dom Bosco, onde ficou numa cela separada com outra travesti. Este estabelecimento foi projectado para pessoas que cometeram delitos sexuais e não podem ser misturados com os presos comuns, e também para pessoas que, como Johana, por razões diversas, arriscam a sua integridade física numa cela comum. Passou aí mais um mês, doente, enquanto o tribunal decidia alterar a acusação para "roubo agravado pelo uso de uma arma" (como participante), sem lhe retirar a prisão preventiva.
Então foi para a Unidad 24 de Florencio Varela, onde passou mais um mês, até o juez de Garantías proferir um despacho de 30 de Setembro, em que ordenava a sua libertação extraordinária. "A situação de saúde do réu é muito séria e piorou ainda mais", reza o texto de Ricardo Alí, que considera que deve prevalecer "a salvaguarda da integridade física, a fim de se evitar um mal maior".
Johana mudou imediatamente da prisão para o Hospital del Pueblo. Sabia que era portadora do vírus HIV e as suas defesas estavam em baixo. Passou um mês no hospital até que pudesse continuar o tratamento na casa de sua mãe (o namorado dela não apareceu mais). Diana Sacayán, que a conhece há dez anos, disse que a sua amiga perdeu 10 quilos na prisão. "Ninguém nos serviços prisionais foi capaz de a ajudar. Abandonaram-na de tal forma que foi como uma tortura ", disse.
Sacayán pertence ao Movimiento de Antidiscriminación y Liberación (MAL), onde Johana normalmente se envolvia em diversas atividades destinadas a tentar ganhar espaços que historicamente são negados às transexuais como a educação, saúde, habitação e trabalho. "Quando soubemos o que estava acontecendo, apresentámos uma queixa junto da Secretaría de Derechos Humanos de Buenos Aires, em La Plata".
Agora, Alejandro Bois, o seu advogado pretende interpôr uma ação contra o pessoal da Brigada de San Justo, que terá o seu testemunho.