De acordo com o relatório, foram documentados 338 assassinatos de LGBTs no Brasil, incluindo duas transexuais brasileiras mortas na Itália, o que dá sensivelmente um assassinato a cada 26 horas! Estes dados representam um aumento de 27% em relação ao ano passado (266 mortes) e um crescimento de 177% nos últimos sete anos.
Os homossexuais lideram os homicídios: 188 (56%), seguidos da comunidade travesti e transexual (trans) 128 (37%), 19 lésbicas (5%) e 2 bissexuais (1%). Também foi brutalmente assassinado um jovem heterossexual na Bahia, confundido com um homossexual, por estar abraçado com seu irmão gémeo.
Assim, o Brasil confirma a sua posição de primeiro lugar no ranking mundial de assassínios homofóbicos e transfóbicos, concentrando 44% do total de execuções de todo o planeta.
O GGB, que há mais três décadas colecta informações sobre homofobia e transfobia no Brasil denuncia no comunicado a irresponsabilidade dos governos federal e estadual em garantir a segurança da comunidade LGBT, afirmando que ?A falta de políticas públicas dirigidas às minorias sexuais mancha de sangue as mãos de nossas autoridades?.
A pesquisa foi feita sob coordenação do Prof. Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia.
Analisando os crimes transfóbicos, e comparando com os Estados Unidos onde, e com 100 milhões a mais de habitantes que o Brasil, foram registados 15 assassínios de pessoas trans em 2011, no Brasil, foram executadas 128. Assim sendo, o risco de uma trans ser assassinada no Brasil é 1.280% maior do que nos Estados Unidos.
Analisando estes crimes por estado, fica-se a saber que São Paulo é o estado onde mais trans foram assassinadas, 28 vítimas, seguido pelo Paraná, com 11, Pernambuco e Goiás, com 8 cada, e Paraíba e Mato Grosso com 6 cada,
Seguem-se Ceará e Minas gerais com 5, Piauí, Amazonas, Pará, Espirito Santo, Santa Catarina, e Mato Grosso do Sul com 4, a Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio Grande do Sul e Rondonia, com 3, Maranhão, Distrito Federal, Roraima e Amapá com 1 cada, sendo que Tocantins e Acre ficam de fora sem mortes.
As trans assassinadas exerciam diferentes profissões, embora predominem as trabalhadoras sexuais, 72 das vítimas (45%).
Quanto à causa das mortes, repete-se a mesma tendência dos anos anteriores, confirmado pela violência extrema, de se tratarem efectivamente de crimes de ódio: foram praticados com armas de fogo, com armas brancas (faca, punhal, canivete, foice, machado, tesoura), por espancamentos (pauladas, pedradas, marretadas), por fogo, afogamentos, atropelamentos, enforcamentos, degolamentos, asfixia, empalamentos, e com recurso a violência sexual e tortura.
O padrão predominante é as trans serem mortas na rua, a tiros. Em Alagoas, no município sertanejo de Olivença, com 10 mil habitantes, Soraia, mulher trans de 39 anos, foi amordaçada, teve pedaços de madeira introduzidos no ânus e o pénis queimado com álcool. Sobreviveu alguns dias, com muitas dores, exalando um odor fétido, até que foi operada, tendo sido retirado do intestino grosso um pedaço de madeira de 15 cm. Morreu logo a seguir com uma infecção generalizada (septicémia).
Dentro do segmento LGBT, as trans são as mais vulneráveis face aos crimes letais: contando com uma população estimada em 1 milhão de pessoas, o risco de uma trans ser assassinada é 9.354% maior do que a soma das demais categorias, gays/lésbicas/bissexuais, que juntas devem representar por volta de 19 milhões de pessoas, ou seja, 10% da população brasileira, tomando como referência o Relatório Kinsey.
Quanto aos autores destes crimes, apenas 1/4 dos homicidas foram identificados nos inquéritos policiais. Destes, 17% tinham menos de 18 anos, demonstrando o altíssimo índice de homofobia e transfobia entre os jovens, 85% abaixo dos 30 anos.
21% desses crimes foram praticados por 2 a 4 homens, aumentando ainda mais a vulnerabilidade da vítima. Predominam entre estes criminosos, seguranças particulares, rapazes de programa e ocupações de baixa remuneração, muitos destes já com passagem pela polícia e uso de revólver, já que 44% das mortes foram praticadas com armas de fogo.
O Grupo Gay da Bahia disponibiliza no seu site www.homofobiamata.wordpress.com . o banco de dados completo com todas as notícias de jornal, vídeos, tabelas e gráficos sobre todos os assassínios LGBT de 2012.