O vídeo do ataque transfóbico que ocorreu em Paris no passado domingo, 31 de março, terá provocado uma onda de indignação na França. Nas imagens, uma jovem trans é vista emergindo do metro e que é repentinamente insultada, agredida e cuspida por um grupo de homens que se manifestavam contra o governo argelino.
Perante a agressão, vários agentes da polícia francesa tiveram que intervir para a proteger e colocá-la em segurança. A vítima, de nome Júlia, explicou que vários homens bloquearam-lhe a passagem ao sair do metro e que um deles lhe terá dito que "era um homem".
As imagens do ataque transfóbico correram rapidamente através das redes sociais e milhares de utilizadores, entre os quais alguns políticos gauleses, como a presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, mostraram o seu descontentamento e condenação dos actos.
Júlia, de 31 anos, regressava do Canal St. Martin, no elegante e enérgico 10º Arrondissement de Paris, no domingo, quando se deparou com uma multidão de manifestantes perto da Place de la République, que se manifestavam contra o presidente argelino Abdelaziz Bouteflika, de 82 anos, presidente há longos anos da Argélia antes da sua recente renúncia. Com uma túnica listrada de branco e preto, uma minissaia preta, botas de salto pretas e uma pequena carteira também preta, Julia aproximou-se dos degraus da estação quando vários homens bloquearam o seu caminho.
"Você, na verdade você é um homem", disse-lhe um deles. "Você não vai passar."
Um dos homens, supostamente, atirou-lhe com cerveja, enquanto outro a apalpou nos seios. Um terceiro expôs-se e disse que ela deveria “agradá-lo”
O que aconteceu depois foi capturado em vídeo, que desde então se tornou viral e chocou o país.
Julia é vista tentando abrir caminho através da multidão de cerca de uma dúzia de homens, vários envoltos na bandeira da Argélia, que parecem estar a gritar-lhe insultos.
Um homem estende a mão e despenteia o seu cabelo loiro curto. Uma manifestante, uma jovem mulher, intervém e parece tentar levar Júlia para longe da multidão. Júlia continua a tentar empurrar o grupo e é aí que a violência começa.
Ela é agarrada, empurrada e socada na cabeça. Outro homem pode ser visto pontapeando-a. O ataque termina abruptamente quando a polícia chega para intervir.
O grupo LGBTI francês, Stop Homophobie, alegou que os policias a trataram como "senhor". tendo-lhe inclusivamente dito para "não se vestir assim".
"É chocante, mas acontece com frequência", disse Júlia à revista francesa Le Point. "Fui alvo porque sou uma minoria. Eles viram-me como um homem vestido como uma mulher e fizeram-me entender claramente que não era normal ”.
O vídeo do ataque à luz do dia já foi visto mais de 2 milhões de vezes, e atraiu indignação de grupos ativistas LGBT, políticos e parisienses. A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, condenou o ataque no Twitter dizendo que os responsáveis "devem ser identificados e processados". A ministra da igualdade, Marlène Schiappa, também condenou o ataque.
Júlia também veio a público com o ataque, aparecendo na capa do diário Libération, de esquerda, bem como em inúmeros programas de televisão franceses para contar a história.
Em declarações ao Huffington Post France, Júlia esclareceu que 'Eu tentei evitá-los [aos homens], mas eles seguraram-me dizendo que eu tinha que responder à pergunta deles. Um deles tocou no meu peito, imaginando [se] eu teria seios. Eu soltei a mão dele dizendo para não me tocar. Ele então pegou no seu “pau” [pénis] e disse-me para "agradá-lo". Eu queria sair dali e subir as escadas. Outros homens atiraram-me com cerveja nos degraus e insultaram-me. Um homem me deu uma estalada’
Falando na France Inter Radio, acrescentou: "A violência contra esta comunidade [trans] acontece todos os dias. Mas algumas pessoas não terão a força que eu tenho e serão destruídas por esses ataques."
A ampla cobertura dos média sobre o incidente tem servido como uma chamada de despertar preocupante num país que é amplamente visto como descontraído e acolhedor em relação à comunidade LGBT.
O procurador de Paris abriu um caso de violência por orientação sexual e identidade de género.
O Dia Internacional da Visibilidade Trans é um evento anual celebrado a 31 de Março destinado a celebrar a população trans e dar visibilidade à discriminação enfrentada pela população trans, bem como celebrar os seus contributos para a sociedade.
O dia foi criado em 2009 pela activista norte-americana Rachel Crandall, no estado do Michigan como reação à falta de reconhecimento LGBT da comunidade trans, nomeadamente a frustração de que o único dia de celebração trans era o bem conhecido Dia da Memória Trans, que lamentava os assassinatos de pessoas trans, mas não reconhecia nem celebrava os membros vivos da comunidade.
O primeiro Dia Internacional da Visibilidade Trans foi realizado em 31 de março de 2009, tendo-se espalhado mundialmente desde então.