Foi em 1980 que Khomeini, na altura o mais poderoso Imã do Irão, responsável pela revolução que depôs o pró ocidental Xá Mohammad Reza Pahlavi e instaurou uma teocrática república islâmica no Irão, emitiu a autorização para as cirurgias de mudança de sexo, mas penalizou a homossexualidade com a pena de morte.
Daqui resultou que, além das pessoas transexuais serem forçadas a operarem-se sob pena de serem confundidas com homossexuais e assim correndo perigo de morte, muitos homossexuais também recorrem a estas cirurgias como modo de escapar à morte, nada tendo a ver com a identidade de género de cada pessoa.
Recentemente o governo iraniano anunciou que deixará de contribuir para os custos de operações de mudança de sexo. Quem resolver realizar a cirurgia terá que pagar os custos na totalidade por conta própria ou por meio de planos de saúde. Até esta altura, o governo contribuía com menos de metade dos custos destas operações.
Devido ao estado de pobreza da população, mesmo com esta ajuda muitas pessoas acabavam crivadas de dívidas e com as cirurgias incompletas ao não terem possibilidades monetárias para custearem a totalidade das cirurgias.
Assim, a partir de agora, as pessoas transexuais iranianas correrão também risco de vida, como os homossexuais, se não conseguirem o dinheiro suficiente para a totalidade das cirurgias ou se não conseguirem escapar para o estrangeiro.
De acordo com activistas LGBT iranianos, são feitas cerca de 400 mudanças de sexo por ano. Números não oficiais, evidentemente.
Até ao momento não foi possível a confirmação por outras fontes além das brasileiras.
Actualização: De acordo com a BBC, o regime iraniano fez, ao contrário do que os media brasileiros noticiaram, estas cirurgias ainda mais acessíveis ao fazer com que as seguradoras de saúde cubram a totalidade dos custos.
À excepção da Tailândia, o Irão é o país que mais cirurgias deste tipo faz no mundo. Esta indústria já atrai pacientes de todo o Médio Oriente e até da Europa de Leste.
Estatísticas oficiais de 2007 dão como número de transexuais iranianos entre 15 a 20 mil pessoas, muito embora estatísticas não oficiais ponham esse número na casa dos 150 mil.
Tanaz Eshaghian, realizador iraniano que recentemente chamou a atenção para a comunidade trans iraniana através do premiado documentário Be Like Others,, de 2008, ilustra bem a lógica atrás da lei: Numa cena do filme, um clérigo muçulmano explica como o Irão apoia estas cirurgias: Uma acção é autorizada salvo se o Corão específicamente afirmar que esse acto é um pecado. Porque é o adultério um dos sete pecados mortais? Porque o Corão o diz especificamente. E porque o Corão não diz especificamente que a mudança de sexo é um pecado, não podemos considerar um pecado.
No entanto, enquanto a liberdade para mudar de sexo possa ser um alívio para alguns,, Eshaghian também chama a atenção para as pressões sofridas por homossexuais e lésbicas para se submeterem a estas cirurgias como meio de legitimarem a sua orientação sexual. Como indivíduos homossexuais estão a cometer um crime. Como transexuais , podem existir debaixo da lei iraniana.
Ali Askar, uma transexual feminina que se submeteu às cirurgias, afirmou à BBC: Se não tivesse sido forçada, não me tinha operado. Não mexeria na obra de Deus."
Afsaneh Najmabadi, teórico do género, acrescenta que Para as autoridades médicas e legais, as cirurgias de mudança de sexo são explicitamente consideradas como a cura para uma anormalidade e são propostas como uma opção sancionada pela religião para heteronormalizar pessoas com desejos ou práticas homossexuais.