A exposição devia inaugurar a 2 de Setembro no Espaço Arte em Lisboa e intitulava-se "P-Town". Foi feita em resultado de uma residência artística realizada em Provincetown, nos Estados Unidos, em parceria com Nuno Alexandre Ferreira. Uma primeira parte do projecto esteve em exposição em julho, na galeria NurtureArt, em Nova Iorque.

Mas quando a direcção de marketing da seguradora teve conhecimento da temática que era abordada na exposição, ao ver o cartaz que a anunciava, "eles responderam de imediato que tinha um símbolo fálico e que era melhor alterar para não chocar as pessoas", afirmou João Pedro Vale ao Diário de Notícias afirmando-se alvo de "censura".

O artista diz não ter levantado problemas e alertou a empresa que "era melhor verem o material todo já que a temática é a homofobia", a partir de factos históricos ocorridos naquela localidade norte-americana. Como em seguida os responsáveis da Tranquilidade lhe pediram para mudar de tema, o artista recusou a proposta e denunciou o sucedido à imprensa, por considerá-lo uma "questão de homofobia".

Da reunião que teve com o responsável de marketing da Tranquilidade, João Pedro Vale disse ao Público: “Foi-me dito que a exposição poderia ferir a sensibilidade dos ‘stakeholders’ da Tranquilidade, foi essa a palavra utilizada, e pediram-me para deixar as fotografias das peças para que eles reflectissem sobre o assunto. Toda a gente naquela reunião percebeu que se estava a falar de uma situação de lápis azul.”

Bloco de Esquerda pede explicações

A deputada Catarina Martins do Bloco de Esquerda diz "partilhar na totalidade" a opinião do artista de que este se trata de um caso de censura. "Há evidentemente uma atitude homofóbica por parte da Companhia em recusar a exposição por conter um teor homossexual", diz o requerimento dirigido à Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade.

O Bloco de Esquerda pretende saber como irá a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género intervir neste caso, após ter assumido competências no combate à homofobia, e o que tem a secretária de Estado a dizer deste acto de censura "que revela uma atitude indubitavelmente discriminatória e é-o com base em fundamentos homofóbicos e discriminatórios da orientação sexual".

ILGA Portugal lamenta atitude da Traquilidade

Por outro lado a associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero - lamenta a "atitude" da Companhia de Seguros Tranquilidade e explica que Provincetown é "um sítio original", sendo "simultaneamente muito portuguesa e muito LGBT". Paulo Côrte-Real, presidente da associação reforça que neste caso particular, "tratando-se de um trabalho artístico era importante que houvesse uma garantia de valorização da liberdade de expressão".

Tranquilidade diz que não discrimina

A Tranquilidade enviou um comunicado à agência Lusa indicando que "nas suas diferentes dimensões de posicionamento e comportamento no mercado, sejam elas comerciais ou institucionais, a companhia defende uma política intransigente de não discriminação de qualquer tipo, seja ela religiosa, de género, orientação sexual ou de raça", mas sublinha "tem o dever de assegurar nos seus espaços o respeito pela sensibilidade de um número o mais alargado possível de stakeholders".

Provincetown é a cidade nos EUA com mais casais do mesmo sexo

As autoridades norte-americanas divulgaram recentemente que Provincetown é a cidade com mais casais do mesmo sexo em todos os EUA segundo dados oficiais do Censos 2010. Existem mais de 160 casais do mesmo sexo por cada 1000 famílias na cidade. Nos dados de 2000 eram 128 por cada 1000.