Realmente a riqueza de deste grupo, deste espectáculo, desta manifestação, desta família, ultrapassa a ideia que possamos ter de como seria viver num ambiente ditatorial severo, como o que se viveu nos anos 60/70 no Brasil, como se atreveram estas pessoas a abrir caminho entre os riscos riscados da censura, como foi possível que essa entidade não percebesse o poder que aquelas pessoas andrógenas tinham nas suas palavras, nas suas músicas, nas suas danças, caracterizações, nos seus corpos.
Estamos em pleno ataque à liberdade individual, e de expressão, onde tudo era censurado, onde um grito poderia levar qualquer um à cadeia, surge um homem muito à frente do seu tempo que vem rescrever a história da arte representativa e musical do Brasil.
Lenny Dale um Nova iorquino, bailarino que no Brasil decide juntar uns quantos amigos e com eles criar uma nova forma de estar em público, de estar para o público, e no palco.
Quem o diz não sou eu foram pessoas como Miguel Falabella, Betty Faria, ou Cláudia Raia, os mais conhecidos para nós portugueses, foram estas pessoas que todos reconhecemos os imensos créditos de representação que são detentores, que disseram que Dzi Croquettes foi a fonte onde beberam sabedoria, arte, e a magica de estar em público.
Foram estas pessoas e outras que nos falaram de cada um dos elementos do grupo, e daquilo que o grupo fez à sociedade de então. E o que fez foi uma revolução, conta o documentário que desde o filho à avó muitas foram as pessoas que vestiam Dzi, sentiam Dzi, desejavam Dzi.
Elementos do grupo ainda entre nós mostraram a grande comunidade que era o grupo Dzi Croquettes, uma comunidade onde sem qualquer pudor as pessoas se relacionavam umas coma as outras num sentimento comunitário muito alem da compreensão do comum dos mortais.
Mas em toda esta fantástica vivencia temos de ter a consciência que tudo aconteceu debaixo de um clima de medo, vivido pela população em geral, mas que este grupo sem se saber muito bem como quebraram com todas as barreiras, chegando a iludir durante imenso tempo o braço implacável da censura do Estado. Quando esta descobre do poder de Dzi Croquettes, já o povo está contaminado pelo seu brilho, e a sua fantasmagórica vontade de viver, e mostrar que estão vivos. Mas tudo que vive morre, e quem vive depressa morre mais rápido, e este é o sentimento que se fica ao ver este documentário. Ficamos com o sentimento que desejávamos tanto ter vivido o que eles viveram ou que hoje, hoje mesmo, fazia todo o sentido que Dzi Croquettes estivesse aí a mudar pensamentos, atitudes, e quem sabe politicas, desta nossa sociedade mundial careta de botas-de-elástico, que mais parece não ter vivido nada.
Dzi Croquettes de Tatiana Issa e Raphael Alvarez vai estar em DVD, o documentário que esteve em exibição no Queer Lisboa 14, e incluído um espectáculo completo recuperado. Isso vai acontecer em Dezembro, e preparem-se porque o sucesso deste trabalho é tanto no Brasil que a probabilidade de esgotar é uma realidade.
Estive aqui a escrever, disse até que faria este comentário em separado, mas a sensação que tenho é de que por muito que vos conte, não serei capaz de por em palavras o que foi, para uma sala quase
completa assistir neste Queer Lisboa 14, um documentário tão rico e brilhante, como Dzi Croquettes.
Dzi Croquettes não deixava, como não deixa, ninguém indiferente.