Realizou-se este sábado, dia 29 de Junho, a 20ª Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, que nesta edição ganhou não só mais uma letra na designação como mais gente nas ruas a marchar, mas ainda tem muitas reivindicações pelas quais lutar.
Nestes 20 anos muito foi alterado na legislação portuguesa, e hoje de certo é de certa forma mais "simples" ser-se LGBTI+ em Portugal. Mas hoje como ontem ainda há quem seja posto na rua pelos seus progenitores, quem perca o emprego, quem seja agredido, e tantas e tantas vezes tudo isto num processo impune.
Mudaram por isso as leis, mas ainda muito há a fazer para mudar mentalidades.
Milhares partiram com é hábito do Príncipe Real em direção à Ribeira das Naus, 1 quilómetro e 700 metros, com muita música e alguma animação, mas comparativamente com menos gritos de luta. Tal como em outros casos a Marcha pelos Direitos Humanos das pessoas LGBTI+ de Lisboa parece cada vez mais controlada pelo capitalismo que deseja hoje mais que nunca o cor-de-rosa nos seus cofres, nas suas contabilidades, e as reivindicações esbatem-se num ruído musical que parece esquecer as vítimas da LGBTI+fobia que ainda temos hoje em dia.
Vintage Queens
Na frente a organização colocou algumas das pessoas que há vinte anos atrás deram o pontapé de saída, o primeiro passo, numa altura que faltava quase tudo para que as ideias de liberdade e igualdade tão proclamadas nos tempos de Abril chegassem realmente às pessoas LGBTI+.
Coisas como a União de Facto, a Igualdade no Casamento, uma Lei de Identidade de Género, o acesso à Procriação Medicamente Assistida, a Igualdade na Adoção, eram apenas miragens quando no ano de 2000 se realizou a primeira marcha em Portugal. É verdade que tendo sendo hoje todas estas leis uma realidade poderíamos estar apenas e só a festejar, mas a marcha de ontem foi também de resistência e recordação, uma vez que na sociedade, nas "pequenas coisas do dia-a-dia" ainda fica muito, mas mesmo muito por fazer.
E por falar em Abril, foi na frente, nos autodenominados “Vintage Queens” que se entoou por duas vezes o Grândola Vila Morena de Zeca Afonso. Quem imaginaria que 45 anos depois de Abril pudéssemos nos apropriar de um grito que em 1974 um general de seu nome Galvão de Melo, nos havia recusado esse fôlego dizendo que "esta revolução não é para putas e paneleiros".
Uma marcha contra a discriminação
A Marcha arrancou no Príncipe Real em direção à Ribeira das Naus, passando pela Rua de São Pedro de Alcântara, Rua da Misericórdia, Rua do Alecrim, virando no Cais do Sodré para a Avenida da Ribeira das Naus, terminando no parque verde por trás do Ministério do Mar.
Aí foi lido o manifesto, aí deram-se lugar aos discursos, que passaram não só pela não discriminação das pessoas LGBTI+, sem esquecer nenhuma das letras, mas também não esqueceu uma imigração com origem em locai onde ter uma determinada orientação sexual ou identidade de género resulta em inúmeras vítimas, por vezes, muitas vezes, fatais, e não esquecendo ainda situações de precariedade que afectam demasiados em geral e que acabam por afectar muitos LGBTI+ de forma ainda mais gravosa.
E outra marcha pelo pink money
No entanto, muitos foram aqueles que não ouviram estes discursos. A Associação ILGA Portugal optou por não comparecer no palco onde se fizeram os discursos e preferiu conduzir os seus camiões de som e os respetivos patrocínios, para alguns metros mais à frente onde a música continuou, aparentemente indiferente a estas questões.
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