Esta foi a demonstração de afeto feita por duas alunas no recinto, na Escola Secundária de Vagos recentemente. E com este gesto de carinho o país teve uma lição de cidadania não dada por professores, mas por alunos.
As nossas fontes descrevem que duas jovens alunas da Escola foram advertidas por uma auxiliar e posteriormente admoestadas pela direção da escola, por estas terem realizado o mencionado ato de afeto.
Discordantes da repreensão, tal como um número significativo de colegas que protestou no interior da escola e publicaram o vídeo do protesto nas redes sociais. Desta forma o país teve conhecimento que a Escola Secundária de Vagos é uma escola que não aprova os afetos, não pelo menos os vividos no mesmo sexo.
O PortugalGay.pt dirigiu-se esta quinta-feira à escola no intuito saber mais informação sobre o caso. Tentamos o diálogo através das grades da escola com três alunas. Duas mostraram-se disponíveis embora não estivessem no protesto. Mesmo assim conversamos um pouco.
- Acho nojento!
- O quê?
- Duas mulheres ou dois homens beijarem-se!
Prontamente a colega desculpa-a.
- Não tem nada de mais é a mesma coisa que um homem com uma mulher, ela é que não esta habituada a ver e por isso diz isto.
Questionamos se conheciam alguém que tenha estado no protesto e se poderiam aproximar-se da grade para falarmos um pouco. Encontraram um grupo. Uma das alunas pertencentes a esse mesmo grupo, veio até à grade e com um ar carregado de olhos postos ora no chão, ora nas colegas, disse que não queriam falar sobre o assunto e prontamente se retirou. As duas simpáticas ficaram e deixamos o nosso contacto de e-mail na expectativa de recebermos alguma mensagem.
Para finalizar a nossa visita à Secundária de Vagos, recordamos um episódio envolvendo os funcionários da escola. Deslocamo-nos para a frente da mesma com o objetivo de recolher imagens próprias do edifício. Paramos a cerca de 100 metros da entrada e apontamos a objetiva para a bandeira presente no local, que dançava ao vento. Parece que a bandeira pode namorar com o vento.
Breves minutos depois o porteiro acompanhado de uma auxiliar aproximou-se e disse que não poderíamos tirar fotos do edifício, ameaçando chamar a GNR. Perante a nossa argumentação o porteiro mudou o discurso para uma “não autorização do uso da sua imagem”. Algo que respeitamos! Só queríamos mesmo a imagem da bandeira.
Ainda com perguntas sem resposta, continuamos a nossa investigação. Opiniões diversas surgem, de ex alunos, e alunos ainda frequentando a Escola Secundária de Vagos.
Quanto ao ato em si, de carinho, de amor, foi visto por alguns como não próprio para o recinto de uma Escola, e por outros como um ato de coragem, e de mudança dos tempos que correm.
Existem várias formas de se mostrar afeto, e sabemos que na nossa atualidade, algumas delas não são as mais indicadas para um local público. Aluna
...e não ter (a Direção) esse tipo de reações para algo que atualmente é mais visto e aceite. Ex-Aluno
Na minha opinião claramente um ato de lesbofobia. Casais hetero fazem bem mais que dar beijos e ninguém lhes diz nada. Aluna
A Direção da Escola, está neste momento a ser pressionada para responder se este tipo de atitude foi tomada com base em discriminação da orientação sexual, ou não, principalmente pelo BE. Todavia, as informações recebidas, apontam para uma repreensão feita nesse sentido. Revelando até mesmo que em tempos passados, alguns funcionários da Escola, possam ter tido outras atitudes que revelam intolerância, como descrito por esta ex Aluna.
Já não frequento a escola há dois anos mas desde sempre foi assim. Funcionários a agredir alunos, a ameaçar até mesmo a própria direção! Acho justo o que está acontecer. Ex-Aluna
Requeremos um comunicado ao Ministério da Educação, sobre a sua posição para com esta Direção escolar. A resposta dada foi a seguinte:
A Inspeção Geral de Educação e Ciência já instaurou um inquérito ao caso referido. O Ministério da Educação repudia qualquer ato de discriminação. Ministério da Educação
Quanto à Polícia ter sido chamada aquando da manifestação feita pelos alunos em defesa dos direitos LGBTQIA+, defendo as colegas que se beijaram, parece-nos excessivo este ato. A manifestação foi realizada sem aviso prévio, contudo, foi feita de forma pacífica. A resposta à pergunta se a manifestação colocou em causa a integridade física dos presentes, ou mesmo se havia a motivo para sentirem perigo por parte dos manifestantes foi esta:
Não, de todo que não! Aluna
Existe neste momento uma onda de secretismo à volta desta situação, que torna o ar pesado. Os manifestantes, e mesmo a Direção da Escola, estão a fechar as portas a mais desenvolvimentos. Como por exemplo no caso de uma página de amigos da escola, no Facebook, que segundo o seu administrador nada sabiam sobre o sucedido.
Não tenho conhecimento de o que se passou. Amigos da Escola, Facebook
Ou até mesmo neste comentário feito por um aluno que esteve presente na manifestação.
Nós decidimos por agora não estar a falar com mais ninguém para ver o que a direção faz. Aluno
Contudo, esta manifestação, quase espontânea, e ainda com muitas perguntas a esclarecer, demonstra um lado de apoio ás causa sociais, que afetam directamente as gerações mais novas. Revela, que os jovens estão atentos às mudanças e que aceitam de forma vocal e intensa, a diversidade que os rodeia.
Este episódio vivido em Vagos distingui-se de um outro vivido alguns anos atrás na António Sérgio, em Vila Nova de Gaia. Os colegas de Vagos protestaram o comportamento da direção e da auxiliar. Se não, estaríamos a lamentar o que lamentamos em 2005 quando duas alunas tiveram de mudar de escola devido à perseguição de que foram vítimas.
Sim, não temos conhecimento de tudo o que se passou. Mas retiramos mais uma lição deste episódio, sem final próximo. Que estes alunos preocupam-se em ter uma sociedade mais empática e respeitadora. Esta geração futura celebra o amor e a compaixão pelo próximo, e está disposta a lutar por isso.