O abuso de crianças atingiu tais proporções e foi e tão prolongado ao longo do tempo que o caso, segundo se lê no documento ontem divulgado, "roça as fronteiras do inacreditável". De acordo com os testemunhos das alegadas vítimas, os abusos foram cometidos, desde 1940, por 250 padres e funcionários. As investigações que deram origem a este relatório duraram 16 meses, mas ainda assim o procurador não conseguiu produzir provas suficientes para acusar criminalmente a arquidiocese ou o cardeal Bernard Law, um alto dignitário da Igreja norte-americana que, em Dezembro, renunciou ao cargo de arcebispo de Boston. Law deixou a diocese de Boston depois de terem sido tornados públicos documentos que demonstravam que foi um dos que permitiram que pedófilos continuassem a exercer; noutros casos, a diocese procurou abafar as alegações e transferia os padres pedófilos de paróquia em paróquia, sem que os paroquianos fossem avisados, conta a Reuters. Estas revelações caíram que nem uma bomba nos Estados Unidos e correram mundo. "Há provas de que, durante muitos anos, o cardeal Law e os seus colaboradores mais próximos tiveram conhecimento directo de que um número substancial de crianças da sua arquidiocese foram sexualmente abusadas por um número substancial de padres", lê-se no relatório de Reilly, que afirma não poder afirmar que os abusos cometidos por membros da diocese tenham cessado, uma vez que as respostas que por esta têm sido encontradas para lidar com o problema "continuam a ser inadequadas". Reilly considera que o cardeal Law é responsável, em última instância, pelo que aconteceu, mas a legislação que estava em vigor na altura dos abusos não o obrigava, nem a outros responsáveis da diocese, a denunciar o que se estava a passar. Por isso não haverá queixa. "Quando consideramos outras fonte de informação, o número de alegadas vítimas de abusos sexuais excede as mil", acrescenta-se. A arquidiocese não se mostrou disponível para comentar o relatório.
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