Num momento em que leis anti-homossexuais estão a ser aprovadas na Rússia, Stand, de Jonathan Taeib surge como uma das propostas mais políticas da programação do Queer Lisboa 18. Este thriller baseia-se em ocorrências reais: na Rússia, grupos criminosos marcam encontros falsos com jovens homossexuais, com o propósito de os atacar e humilhar, filmando esses encontros para os colocar online. O filme estará em competição para melhor longa-metragem, juntamente com Appropriate Behavior, de Desiree Arkhavan, que na melhor tradição das comédias nova-iorquinas de temática judaica, explora a vida de uma mulher bissexual em Brooklyn, num tom sarcástico e neurótico.
A realizadora de Julia, J. Jackie Baier, será uma das convidadas do festival, e estará presente para a exibição do seu filme, em competição para melhor documentário. A realizadora seguiu, durante mais de 10 anos, a vida da transsexual Julia K. e a sua difícil vida como prostituta, marginal e não-conformista nas ruas de Berlim. Everything But Oom Pa-Pa, de Kerstin Polte, faz igualmente parte da Competição de Documentários, e reúne sessenta e seis mulheres que são também sessenta e seis histórias no feminino, unidas por uma alegria contagiante de tocar música em conjunto.
A secção Queer Focus on Africa, que explora o modo como o cinema africano tem explorado as questões ligadas à sexualidade e ao género, apresenta-nos a ficção guineense Dakan, de Mohamed Camara, considerado o primeiro filme da África ocidental a representar abertamente uma relação gay, em que um casal tenta desesperadamente adaptar-se à sua comunidade. Já Mercedes, de Yousry Nasrallah, revela-se uma janela para um desconhecido e surpreendente Cairo dos anos 90, em que, num momento em que a maioria do cinema Egípcio ainda lutava por se libertar de clichés, Nasrallah propõe uma satírica e vibrante história da situação política e social do país. John Waters não poderia deixar de marcar presença na Cinemateca, desta feita com Hairspray, no que foi o derradeiro desempenho de Divine para Waters.
Ainda no São Jorge, o programa de curtas em competição terá vários realizadores presentes, entre eles Nikolaos Kyritsis, que apresentará King Kong, e Marcelo Caetano, para Verona, e António da Silva, cujo Cariocas integra também a selecção de curtas Queer Art deste ano. Nubes Flotantes, do realizador Julián Hernandez, cuja longa-metragem Yo Soy La Felicidad de Este Mundo é um dos destaques em competição, será outra das curtas exibidas.
À noite, o Queer Lisboa 18 encerrará o dia com a festa “Rabbit Hole: Ororo Rises”, a acontecer na Galeria Zé dos Bois, integrada na secção Queer Focus, e organizada pela Associação Cultural Rabbit Hole. A festa promete uma variada selecção de performances, instalações e música, contando com a presença da artista queniana Ato Malinda, que apresentará a sua performance Derivativo sem título de Mshoga Mpya, ou o Novo Homossexual (2014), acompanhada ao ritmo de cantoras pop como Cher, Emili Sandé e Tracy Chapman.
Incluídas também no programa Queer Focus on Africa, as instalações 100 Conversations, de Amanda Kerdahi, e Collage, de Kadder Atia continuam patentes na Cinemateca Portuguesa, uma oportunidade para conhecer a obra destes dois artistas africanos, que tratam diversas problemáticas ligadas ao universo queer.