No âmbito do Queer Lisboa - Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, podemos ver hoje um dos mais belos filmes da competição para a Melhor Longa-Metragem. Primeira longa realizada de Cam Archer, Wild Tigers I Have Known (às 22.00, no cinema São Jorge) é um filme visualmente desafiante, a meio caminho entre Gus Van Sant e David Lynch.
Dir-se-ia que este filme foi tomado por uma benigna preguiça narrativa, apostando antes numa sucessão de quadros vivos e poéticos que, naturalmente, também contam uma história (ou não fosse a poesia, como se sabe, a ficção suprema).
O filme centra-se no desabrochar sexual de Logan (Malcolm Stumpf), um rapaz solitário, sonhador e algo andrógino que vive uma paixão secreta por um colega de escola mais velho, observando-o e adorando-o à distância.
Logan habita outro planeta, constantemente distraído do mundo que o rodeia, entediado com tudo menos com Rodeo Walker (Patrick White). Assim, o onirismo poético que caracteriza o filme não é uma opção gratuita, mas justifica-se como espécie de projecção da letargia e da fuga da alma de Logan, que parece dar primazia ao mundo dos seus sonhos sobre o estéril prosaísmo do real.
Wild Tigers I Have Known (2006) é um prodígio de estética. O facto de ter Gus Van Sant como produtor executivo e mentor não reduz o filme a um mero exercício de epigonismo sem cunho pessoal.
É verdade que Cam Archer está ainda bastante colado às suas referências cinematográficas (não esqueçamos que tem apenas 26 anos), mas Wild Tigers I Have Known vale enquanto objecto autónomo, sobretudo pelas suas belíssimas imagens, pela montagem que segue uma lógica emocional e pelo excelente trabalho de sound design que confere ao filme uma textura sonora bastante atmosférica. (por Nuno Carvalho)
[saiba mais sobre o festival em: www.queerlisboa.org ]