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Quarta-feira, 20 Junho 2007 08:10

PORTUGAL
Primeira gayleria nasce em Lisboa



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A bandeira do orgulho gay (arco-íris) à entrada não engana. Nem as fitas vermelhas à porta ou o foco – vermelho também – apontado à bica de Santa Catarina, em Lisboa, mesmo em frente. Podia ser um simples bar gay, mas é mais do que isso: ‘O Bico’ é a primeira gayleria a abrir em Portugal. Sim, leu bem: GAYleria.Lá dentro, os quadros expostos em originais cordas de aço presas por porcas que se enrolam nas canalizações mostram homens... com homens. Corpos nus, sexo entre iguais. As mesas, cadeiras e portas – e puffs – têm formas explícitas... de falos.


‘Didi’, nome artístico de Eduardo Henrique, é o pintor de ‘serviço’ e as pinceladas fazem-se ao vivo. “Nunca mostrei os meus quadros, agora faço-o enquanto recebo as pessoas”, conta o proprietário de 39 anos. O sócio é heterossexual. Como grande parte da frequência do bar galeria, aberto há duas semanas. “O público é gay, hetero e até vêm aqui mais mulheres e nem todas são lésbicas.”

Para se dedicar ao espaço, Eduardo deixou temporariamente a carreira de produtor de espectáculos. “Queria um local que tivesse a ver comigo e ‘O Bico’ tem”, explica este homossexual assumido “desde os 14 anos, sempre com o apoio da família”, ele que é neto de um actor (Henrique Santos) e que desde cedo convive no meio artístico.

Já fez figurinos – para a discoteca Swing (Porto), para o teatro O Bando, Teresa Salgueiro e Filipa Pais, entre outros – produção de espectáculos e, em Setembro, volta a dar aulas (na ETIC). Mas este “era um sonho antigo para os meus últimos anos: um bar galeria, à beira da praia”, conta Eduardo. “Por que não agora?”.

Com um investimento de 50 mil euros, ‘O Bico’ (que funciona das 17h00 às 02h00) transformou-se na ‘sala de estar’ de ‘Didi’, bem no meio de um bairro lisboeta, o Alto de Santa Catarina. Serve bebidas exóticas – sangria de champanhe com morangos (Bico da Casa) – e mostra arte gay (ver caixa) ao estilo work in progress.

Além, de quadros – os de ‘Didi’, da exposição ‘Ho(t)mens’, custam entre 1500 e 2500 euros –, a programação de fim de tarde incluirá, futuramente, projecções, fotografia, poesia e música. A temática, claro, tem cariz (homos)sexual: “Entre homens, porque a arte lésbica também se mostra em galerias normais”, sublinha o mentor da galeria.

Jorge Palma, na noite de inauguração, passou por lá e agarrou-se ao piano. “Foi uma participação espontânea”, lembra Eduardo Henrique.

Em breve, além de mostras em intercâmbio com duas congéneres europeias (Colónia e Londres) e da participação no Arraial Pride da Praça do Comércio (dia 23, o da Marcha do Orgulho LGBT), haverá “sessões de bodypainting em nus”, em homens, claro, talvez já no dia 29, na primeira grande festa.

ARTE COM CARIZ HOMOSSEXUAL

Arte gay? A arte tem sexo? “Não, a arte não tem sexo, mas a arte figurativa tem. Pode ser interpretada de forma heterossexual, mas a conotação é sempre sexual e mostra a relação entre dois homens”, explica Eduardo Henrique, sublinhando o conceito “nascido nos anos 80”. Para mais, “os gays têm mais dinheiro porque não gastam com a família e querem arte diferente”. N’O Bico têm.

(por Sofia Canelas de Castro)

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