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Segunda-feira, 19 Julho 2004 00:58

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Bem-vindos ao Rap "Gay"



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Deadlee tem o aspecto típico de um "rapper": um jovem negro coberto de tatuagens, um lenço a cobrir-lhe a cabeça rapada, numa pose agressiva, com uma expressão zangada em que nunca cabe um sorriso.


O estilo "gangsta" e a sonoridade minimalista da sua música também é típica do hip-hop americano. Mas há uma particularidade em Deadlee: ele descreve-se como o "primeiro bandido gay". Deadlee é "rapper", é "gangsta", mas também é "gay". Deadlee foi um dos "rappers" que fizeram parte do PeaceOut East Festival, uma mostra de um género conhecido como "homo-hop" - rap feito por homossexuais - que decorreu este fim-de-semana em Nova Iorque. O termo "festival" é um pouco pomposo para as dimensões relativamente modestas do PeaceOut East: um par de sessões de cinema e mini-simpósios em cafés-livrarias da baixa de Manhattan, um concerto numa discoteca para lésbicas perto de Times Square, e um concerto final, ontem, num "night-club" nova-iorquino. A audiência em cada um dos eventos era reduzida. Mas os "media" começam a falar do fenómeno, porque há na história do "homo-hop" uma contradição - como é que artistas "gay" se integram no mundo machista e por vezes abertamente homofóbico do rap? "Acho que é um paradoxo", diz Paradigm, "rapper" do grupo BQE e uma das organizadoras do PeaceOut East. "Na América ainda somos uma novidade; as pessoas acham que ser homossexual é anátema para estar no hip-hop. Mas uma das coisas importantes para um 'rapper' é criar o seu próprio espaço. Temos de fugir a uma definição masculina e tacanha do que significa ser homem e mulher." O rap americano é dominado por figuras como Eminem, Jay-Z, 50 Cent, Snoop Dogg, cujo universo é feito de fantasias masculinas sobre dinheiro, sexo e violência. Muitos artistas rap usam "homossexual" como insulto; em algumas canções, Eminem ataca homossexuais; numa entrevista recente à revista "Playboy", 50 Cent disse: "Não gosto de maricas. Não gosto de ter 'gays' à minha volta. Mas mulheres que gostam de mulheres, isso já é fixe." Mas Paradigm contrapõe: "Há uma série de mitos inventados - que ser 'gay' é ser branco, que o hip-hop é para jovens negros homofóbicos. Como muitas coisas nos 'media', não é necessariamente representativo da realidade." Tal como, de resto, o rótulo "homo-hop". Ninguém sabe quem o inventou, mas é um nome prático e "pegou" para descrever o rap feito por "gays" - ou melhor, pela comunidade LGBT (lésbica, "gay", bissexual e transexual). Paradigm não se chateia com o rótulo "homo-hop" e compreende a sua utilidade, mas prefere não o usar. A nível "oficial", fala-se em LGBT; mas como a sigla é pesada, a linguagem dos "rappers" cai rapidamente em termos mais vernáculos. "Rappers" como Deadlee, Tori Fixx ou El-Don preferem nas suas letras termos como "gay", "queer" ou "fag", uma apropriação de palavras depreciativas semelhante à forma como o rap afro-americano usa o termo "nigger". Das dimensões limitadas e muito "underground" do PeaceOut East até à fama "mainstream" ainda será um caminho muito longo para os "rappers" de "homo-hop". Mas há meia dúzia de anos a ideia de um "rapper" branco ter sucesso também não parecia muito provável, e agora Eminem é o mais famoso nome do hip-hop.

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