Antes mesmo no Príncipe Real, ponto de encontro da Marcha e conhecido spot da comunidade, inaugurava-se o monumento em memória das vitimas de homofobia e transfobia. E aqui começava o verniz a estalar: foi notado o desconforto em muitos dos presentes, e em especial das pessoas trans, que apontaram o monumento de “egocêntrico” ao tornar apenas visível, na prática, a homofobia e não as outras formas de fobia que os LGBT em geral são alvo.
Se era para haver um monumento de homenagem dedicado à nossa comunidade que fosse abrangente! ativista trans
Desconfortos à parte lá iam passando para a foto ao monumento onde se pode ler inscrito no betão que constituiu a parte principal da obra: "Homenagem às Vítimas da Intolerância Homofóbica".
A Marcha
O Príncipe Real foi enchendo devagar com um calor absurdo sob o qual não era fácil caminhar e pouco passava das cinco da tarde quando se deu a ordem de marcha. Os coletivos dirigiram-se para as suas posições indicadas pelos que envergavam coletes florescentes munidos com a lista pré-definida em reunião da organização.
Para quem estava presente no evento este ano estiveram visíveis bem menos organizações do que nos anteriores, pelo menos faixas identificativas de relevo.
Em compensação quem abria a marcha era um bloco intenso: por um lado pela energia e reivindicação, por outro por ser um grupo de pessoas quase invizibilizadas no passado. As pessoas trans foram quem avançou pela Rua da Escola Politécnica em direção à Rua D. Pedro V. Um grupo muito diverso de pessoas mas que acima de tudo reivindicavam o direito de falarem em seu próprio nome e que deram o título ao manifesto.
Autodeterminação do género, autodeterminação do corpo para todas as pessoas trans Manifesto Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa
Depois apresentaram-se diversas organizações com mais ou menos irreverência, e mais ou menos poder reivindicativo. Recordamos a lista oficial das entidades: Academia Cidadã, Actibistas, Amnistia Internacional Portugal, Amplos, Associação para o Planeamento da Família, Grupo Assexual e Arromântico Português, G.A.T.A., GAT, Grupo Transexual Portugal, ILGA Portugal, Lóbula, Não te Prives, Opus Gay, Panteras Rosa, Polyportugal, Precários Inflexíveis, Queers On Wheels, Rede ex aequo, SOS Racismo.
Quase na cauda da marcha um autocarro turístico de dois andares e um camião tipo discoteca móvel alegravam uma secção apoiada pela ILGA Portugal. Tudo muito bem não tivesse tal situação sido repudiada pela organização da marcha em reuniões anteriores. E este desconforto foi mais visível no final da marcha já na Ribeira das Naus quando os discursos eram precedidos ou seguidos com palavras de ordem contra o patrocinador dos veículos, uma instituição bancária:
Não há orgulho em ser banqueiro! pancarta na marcha
Uma frase que é mais importante quando se percebe que uma parte do manifesto da marcha é precisamente contra o capitalismo desenfreado que exclui pessoas baseadas no seu capital económico, algo que, quase por definição, é mimetizado pelas instituições bancárias em geral.
Cada vez maior
Polémicas à parte, a verdade é que foram muitos milhares que se deslocaram do Príncipe Real até à Ribeira das Naus, naquela que foi a festa da maior idade da desta Marcha (afinal são 18 edições!). Uma maior idade que teve a capacidade de mobilizar a comunidade trans de forma nunca vista até hoje e também reunir um número cada vez maior de apoiantes de todas as orientações sexuais e identidades de género.
Próximo sábado é tempo de mais uma edição do Arraial Pride (agora "Arraial Lisboa Pride") organizado pela ILGA Portugal com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.
Voltando à política mais direta, dia 1 de Julho é a vez da 12ª Marcha do Orgulho LGBT+ no Porto, que se espera também com participação maior de sempre.
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