O filme de abertura quase dispensa apresentações e por isso mesmo apenas diremos Absolutely Fabulous: The Movie, o filme da famosa serie realizada por Mandie Fletcher.
Mas a sessão de abertura foi bem mais que um filme cómico, antes mesmo e por pouco mais de meia hora, dezenas ocuparam o palco do Cinema São Jorge, devidamente alinhados, sentados, um a um dizia parte de um texto da autoria de André Murraças. E foram, verdadeiros murros no estômago: cada trecho estava carregada de emoção, uma emoção que passou mais ou menos intensamente considerando o tom da voz de quem declamava. Pouco mais de 30 minutos onde o silencio imperava no resto da sala: afinal estávamos a falar de 49 vitimas assassinadas a sangue frio. Testemunhos dos amigos das vítimas, dos familiares, dos professores e do atirador, não esquecendo os sobreviventes.
Podia ter sido pior, ouço dizer no meio disto tudo. O Martin, o meu namorado estava comigo na discoteca e morreu lá. Eu levei uma rajada de balas, que me apanhou as penas e me desfez os ossos. Os médicos dizem que não vou voltar a andar. Podia ser pior? A sério, podia ser pior? Martin Benitez Torres, 33 (lido por Ivo Melo)
Um a um, como soldados que tinham ido para a guerra e que já não iam voltar. Nessa altura, o médico tinha o rosto lavado em lágrimas. Até ao fim, esperamos que o nome dele não fosse o último a ser dito. Mas foi. Christopher Joseph Sanfeliz, 24 (lido por Anabela Brígida)
No final os 830 lugares da sala Manoel de Oliveira ficaram vagos para uma enorme ovação de pé, com rostos carregados, talvez também porque todos sabiam que foi em Orlando mas poderia ter sido em qualquer cidade, em qualquer local.
Presentes e com discursos marcados o Embaixador dos EUA, Robert A. Sherman e a Embaixadora de Inglaterra, Kirsty Hayes, que falaram da importância de não deixar que “Orlandos” se repitam onde quer que seja.
Robert Sherman disse “os direitos humanos são direitos LGBTI e os direitos LGBTI são por isso direitos humanos” na sua referencia ao papel de todos os governantes na luta contra todo o preconceito.
Kirsty Hayes por sua vez disse “em todas as ocasiões eu prefiro o amor” no sentido de que os atos de ódio não podem reinar sobre o amor seja ele de quem for.
Foi uma sessão de abertura carregada de significado e de pesar, mas ao mesmo tempo de esperança e da necessidade de estarmos todos alerta afirmando sempre pela paz, pelo respeito pelo outro, e, passe o lugar comum, pelo amor.
João Paulo, editor PortugalGay.pt
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