"Pobre Europa: os maricas estão em maioria", afirmou o ministro Mirko Tremaglia numa nota tornada pública. Tremaglia é o ministro para as comunidades italianas espalhadas pelo mundo e membro da Aliança Nacional (direita), o partido do vice-primeiro-ministro, Gianfranco Fini. Tremaglia, 78 anos, pretendia assim protestar contra a rejeição segunda-feira da nomeação de Buttiglione para o cargo de Comissário europeu da Justiça pela Comissão das Liberdades civis do Parlamento europeu, no final de uma votação por uma maioria muito escassa (27 votos contra 26) que apanhou de surpresa muitos responsáveis políticos. Esta votação constitui uma estreia: no passado, alguns aspirantes a comissário chegaram a ser criticados pelo Parlamento Europeu, mas nenhum tinha sofrido a humilhação de uma votação negativa. "Limitei-me a traduzir para italiano o palavra gay", utilizando o termo "culattoni", desculpou-se depois Tremaglia, confrontado com a onda de protestos provocada pelo seu comentário. "Hoje, os jornais falavam do 'lobby gay'. Eu simplesmente utilizei a mesma fórmula, mas traduzindo-a para italiano", explicou. A Comissão Liberdades Públicas do Parlamento Europeu rejeitou Buttiglione por causa da hostilidade que manifestou contra os homossexuais e devido às suas posições ultra-conservadoras sobre o papel da mulher na sociedade. O presidente da futura Comissão europeia, o ex-primeiro- ministro português José Manuel Durão Barroso, fez todavia saber que mantinha a sua confiança em toda a sua equipa, nela incluindo Buttiglione. "A homossexualidade é um pecado" afirmou Buttiglione durante a sua audição perante o Parlamento Europeu (PE), a 05 de Outubro. "A família existe para permitir à mulher ter filhos e ser protegida pelo marido", sustentou também. Os colegas de Tremaglia procuram desvalorizar as suas declarações de hoje. "Trata-se de uma piada infeliz", assegurou Stefania Prestigiacomo, ministra para a Igualdade de Oportunidades. A oposição de esquerda é que não perdoou e vários dos seus dirigentes exigiram não só a demissão de Tremaglia como um pedido de desculpas por uma afirmação que consideram "discriminatória e ofensiva". "É intolerável e inaceitável que um ministro da República italiana afirme publicamente o seu desprezo por quem não é como ele", disse Angelo Bonelli, coordenador nacional do partido dos Verdes italiano. "Quem profere estas declarações, discriminando e ofendendo, não merece ser ministro da República", sublinhou Bonelli, citado hoje pelo Corriere della Sera na sua edição online.
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