"A prostituição continua a existir, só que agora é mais dissimulada", salienta Edgar Silva. Já não são 'os meninos das caixinhas'; "são os que arrumam carros, que andam de mealheiros, que vedem fotocópias de 'santos', que estendem a mão". Porventura crianças como Liliano (nome fictício), oito anos, que, frente a um caderno oferecido pelo PÚBLICO, começa por desenhar um barco sobre um mar povoado de peixes - o pai é pescador - e logo desenha a igreja onde tem catequese, a escola onde às vezes vai, a casa onde mora, um menino e, ao lado do menino, um pénis. Quem é? "Eu". O "eu", no caderno, é do tamanho do pénis. Um pénis virado para cima, com pêlos. Pede que se lhe desenhe um diabo. Faz-se-lhe a vontade. "Não tem pila!", admira-se. E logo acrescenta uns órgãos genitais, desta vez proporcionais, ao demónio. Um pénis virado para cima, com pêlos. Cláudia Neves assegura que a maior parte das denúncias feitas por crianças partem precisamente de desenhos semelhantes a este.