De todos os programas destes que eu já vi e foram bastantes, nunca vi que filmassem tanto parte da audiência - aquela que era composta por pessoas trans, logo os freaks para chamar audiências.
Catarina Marcelino, a representante do Governo e uma das responsáveis pelo projecto-lei do mesmo, saiu-se bastante mal, entre o conseguir defender minimamente o projecto-lei e o contradizer o que tinha acabado de dizer. Estava mal preparada, conseguiu defender-se em algumas ocasiões dos ataques do psicólogo Abel Matos Santos, mas o saldo da prestação dela é francamente negativo.
A mais visada nos ataques, talvez por ser do Bloco de Esquerda, foi Sandra Cunha, que teve uma prestação de bradar aos céus. Mal preparada também, sem capacidade de argumentação, foi repetindo os mesmos clichés durante todo o debate, não respondendo, inclusive, a perguntas sobre o projecto-lei do BE. Confesso que, para mim, foi uma pena o José Soeiro ter deixado de tratar destas questões, pois esta deputada do BE não está minimamente à-vontade com o tema, nem o domina, logo não tem capacidade para falar sobre ele. Prestação péssima de Sandra Cunha.
Pois, e para mal dos nossos - de todas as pessoas trans - pecados, a representante do PSD e o psicólogo Abel Matos Santos pelo CDS-PP acabaram por "ganhar" a noite. Ambos mais bem preparados e aproveitando algumas falhas ou ausências de argumentos lógicos das representantes do Governo e BE, vincaram bem os preconceitos e as discriminações que ambos defendem e que, infelizmente, ainda estão muito enraizados na nossa sociedade. E pela votação online no Pax Voice (Concorda com a possibilidade de mudar de sexo no registo civil aos 16 anos? 81% votou Não e 19% votou Sim) viu-se que ambos, infelizmente, levaram as suas ideias retrógadas e preconceituosas avante para a esmagadora maioria de quem estava a ver.
Das outras intervenções, destaco apenas a de Daniela Bento, a única pessoa trans a ter o direito a falar, e que no meio de algumas coisas que não faziam sentido para aquele debate, ainda disse alguma coisa de jeito, nem que fosse para as pessoas perceberem o que uma pessoa trans sente.
Por fim, um grande dislike para a experiente apresentadora, Fátima Campos Ferreira, que foi tremendamente tendenciosa para a direita e para a defesa de um discurso moralista judaico-cristão perpretado por Abel Matos Santos. Esteve francamente muito mal. Convém também lembrar que a RTP1 é um canal de televisão público e que deveria reger-se por contenção, rigor e isenção. Infelizmente, tanto neste programa, como na própria informação, vê-se cada vez mais um encostar à direita, o que não lhe fica nada bem e que deveria ser evitado.
Resumindo, um debate quase oco, que pouco ou nada disse a quem o viu e nada percebe do assunto, e que entristeceu quem estava à espera de algo mais do que lavagem de roupa suja e contra-informação.
Muito mau, mesmo.