A decisão de Asenjo, antigo porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), foi divulgada horas depois de a cúpula da hierarquia eclesiástica se ter solidarizado com o comunicado de terça-feira do bispo cordobês, no qual este manifestava apoio ao sacerdote de Peñarroya. Em escassas horas, todas as instâncias da Igreja de Espanha mudaram de posição. "Manifestamos o nosso apoio e proximidade [ao padre Domingo], que declarou reiteradamente ao seu bispo nunca ter incorrido em comportamentos morais incompatíveis com a sua condição de sacerdote", lia-se no comunicado, de terça-feira, do bispo. O texto referia, também, "que os factos [abuso de menores], a serem certos, são sempre deploráveis, moralmente condenáveis e origem de sofrimento para todos". Na redacção havia uma grande dose de ambiguidade, o que suscitou um vendaval de criticas. Pelo que surpreendeu, ontem de manhã, o apoio da CEE à posição do bispo de Córdoba. Depois, houve nova rectificação: a destituição do pároco José Domingo e a sua substituição por um outro sacerdote à frente da paróquia de Peñarroya. Sem que o bispo Asenjo justificasse a mudança de posição e assumisse a responsabilidade por, durante 24 horas, ter manifestado o seu apoio a um prelado condenado a 11 anos de prisão. A sentença do tribunal, ratificada pela Audiência Provincial de Córdoba, considera provados os factos: que, entre Outubro e Junho de 2001, o sacerdote praticou por diversas vezes tocamentos vaginais a seis menores da localidade durante as aulas de catequese. O auto explicita que estes tocamentos, "com propósito lascivo", ocorriam também no confessionário ou no escritório do pároco, a seis meninas que então tinham entre oito e nove anos. Quatro mulheres declararam, também, em tribunal terem sido submetidas a idênticos tocamentos. Foi a indignação e a pressão da sociedade espanhola que obrigou a hierarquia à destituição do padre, ontem celebrada com foguetes na localidade de Peñarroya. "Quando me disseram nem queria acreditar, depois de tanto tempo em que ninguém se preocupou, estamos muito felizes e gratos", disse, ontem, à rádio SER, a mãe de uma das menores. Este caso voltou a pôr em evidência a hierarquia eclesiástica espanhola, após a divulgação, na passada semana, de um guia de comportamento, no âmbito da Pastoral da Família, no qual a "revolução sexual" era responsabilizada pela violência contra as mulheres. O que motivou uma onda de protestos na sociedade espanhola e levou o arcebispo de Toledo, António Cañizares, a um contra-ataque. Numa entrevista ontem publicada pelo diário "ABC", Cañizares, apontado como sucessor de Rouco Varela à frente da Conferência Episcopal, considerava que o laicismo do Estado cerceia o direito à liberdade religiosa e pode converter a democracia numa tirania.