Sábado 6 de Julho, este passado sábado mesmo ontem poderia ser mais um daqueles sábados que ficávamos por casa ou íamos à praia, quem sabe bater perna num qualquer shopping, e talvez até tenha sido tudo isto para muita gente, mas para cinco mil pessoas este sábado foi um sábado diferente que o Porto já se habituou a observar uma vez por ano, desde 2006.
Ontem realizou-se a 14ª Marcha do Orgulho LGBT+ do Porto, ontem um mar de gente invadiu as artérias da mui nobre cidade Invicta, para gritar que “O Porto não se rende e o Orgulho não de vende”.
Pouco antes da hora marcada, 15 horas, já centenas ocupavam o jardim da Praça da República, coloridos, animados, com muito brilho no rosto, mas nas mãos as pancartas que mostravam que o caminho ainda não está feito, ainda há muita estrada pela frente no que aos Direitos Humanos diz respeito.
A 14ª Marcha do Orgulho LGBT+ do Porto (MOP), não esqueceu isso mesmo, e no seu manifesto deste ano revisita as Marchas anteriores começando do início “Um presente sem violência, Um futuro sem diferença”, e daí em diante as lutas integradas entre o que ainda havia por fazer por cá, com aquilo que havia por fazer em tantas outras nações. Um manifesto que mais que não negar a variedade da organização da MOP desde o seu início, exalta as questões abraçadas desde o primeiro momento, sem esquecer problemas cada vez mais atuais.
Das américas ao continente asiático, de Portugal à India, do Brasil à Angola, este manifesto mostra que os organizadores da MOP estão não só atentos ao que se passa no nosso país mas mais além, não esquecendo o que se passa um pouco por todo mundo, com especial atenção sobre aqueles que estão a dar os primeiros passos na luta por Direitos Humanos.
Depois de numa coreografia agilizada com as forças de segurança, os manifestantes ocuparam a rua por volta das 16 horas. A 14ª Marcha do Orgulho LGBT+ do Porto começava a sua caminhada de protesto, na frente os Bears on Motorbykes duas motos que Orgulhosamente abriam as "hostilidades".
Os slogans repetem-se, alguns deles são tão urgentes como o foram na primeira marcha, como por exemplo o bullying homofóbico é uma realidade nas escolas, na rua, na vida de demasiadas pessoas.
Logo no arranque entre a organização o nervoso e o espanto, expresso num comentário de surdina, numa questão apresentada entre eles, “- São mais que no ano passado!?”, questiona-se a polícia para poderem contar com outra perspetiva, e a resposta é audível, “- Bem mais que 3000 pessoas!”, mas o número não ficou ali definido. 5000 mil pessoas foi o número oficial da organização à passagem em frente à Câmara Municipal do Porto incluindo os que se foram juntando do passeio entretanto ao longo do percurso, número compatível com as estimativas algo informais das autoridades presentes. Certo é que a MOP cresceu sobe todos os aspetos, também na sua diversidade, aqui e ali anónimos manifestantes davam os parabéns à organização, quando viram Santa Catarina repleta, quando desciam Passos Manuel e ao mesmo tempo observavam o resto da marcha já lá em cima para lá do túnel de Ceuta, a marcha de defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bi, Trans e mais, 14 anos depois, tomava definitivamente o seu lugar na cidade.
Este percurso tem de ficar!
Alguém comentava quando no topo da entrada do Túnel de Ceuta se observava a moldura humana que se via desde Passos Manuel, fervilhava na D. João I, e entrava em ebulição ao atravessar os Aliados. No Largo Amor de Predição, frente ao edifício da Cadeia da Relação, atual Centro Nacional de Fotografia, desaguaram uma multiplicidade de cores, e gritos.
Marchar, e não só
No local a MOP apresentava o “Arraial mais Orgulhoso do Porto”: algumas tendas onde se vendia comes e bebes (com alguns problemas de vazão visto a imensa afluência repentina), mas também se disponibilizava diversos materiais das associações. Entre eles a publicação de António Alves Vieira “As Estrelas Mexem-se” uma homenagem a um dos fundadores da MOP falecido ano passado no mês a seguir à MOP2018, e pessoa incontornável nos movimentos sociais e em especial no movimento LGBT+.
Lido o manifesto da MOP2019, deu-se lugar ás intervenções das diferentes entidades que organizaram esta 14ª edição da MOP, a saber-se, A Coletiva; AMPLOS-Porto; AEFAUP; AE FBAUP; AE FPCEUP; Bears on Motorbykes; CaDiv-Caminhar na Diversidade, Porto; He4She; GIS - Grupo de Intervenção Solidário; Panteras Rosa; ponto parágrafo; Porto, Inclusive; Queer Tropical; rede ex aequo; Somos Blergh; SOS Racismo; Bloco de Esquerda - Distrito do Porto; Juventude Socialista | Federação Distrital do Porto; PAN - Pessoas-Animais-Natureza.
Frente aos oradores rostos mais ou menos emocionados aplaudiam, ou em silêncio deixavam cair uma e outra lágrima, muitos abraços, e vivas, intercalados com shows de transformismo também para aliviar a tensão que um ou outro discurso mais carregado poderia provocar. O Arraial mais Orgulhoso do Porto continuou até ás 23 horas, para depois a festa continuar no Trindade Bar noite fora.
Para o ano cá estaremos novamente.
Foto-reportagem
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