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Sábado, 7 Fevereiro 2004 00:59

ESPANHA
Igreja Espanhola Culpa Revolução Sexual pela Violência Doméstica



PortugalGay.pt

Num guia intitulado "Como evangelizar com audácia e levantar a voz para desmascarar a actual situação", a Conferência Episcopal espanhola culpa a revolução sexual dos anos 60 pela violência doméstica.


A tese motivou duras críticas e colocou em foco a hierarquia eclesiástica em vésperas de eleições. O guia baseia-se na Pastoral da Família, um documento de 250 páginas aprovado em Novembro do ano passado. A súmula de recomendações é clara: "A revolução sexual separou a sexualidade do casamento, da procriação e do amor" e os "seus frutos amargos são a violência doméstica, os abusos sexuais e os filhos sem casa". Após esta referência, os bispos de Espanha apontam para outros alvos. Os meios de comunicação, por exemplo, "são porta-vozes de determinados grupos de pressão, como os 'lobbies' homossexuais". E, na versão do guia, por trás deste comportamento está um negócio: "O da pornografia, da prostituição, do aborto e dos contraceptivos." Por tudo isto, o guia recomenda que os seus princípios sejam divulgados nos colégios católicos e nas escolas públicas, onde, devido à Lei Orgânica de Qualidade da Educação aprovada pelo Governo conservador de José Maria Aznar e já em vigor, existe o currículo de opção confessional católica. Contudo, para alguns observadores, uma frase do guia revela os objectivos da hierarquia católica: "Os poderes públicos foram infectados pelas pretensões destes 'lobbies' [entre os quais, o documento destaca o dos homossexuais] quando facilitaram iniciativas para equiparar o casamento legítimo e a família natural com realidades que não o são." [...] Como o Executivo de Aznar acedeu na "batalha da educação", o que ainda não está resolvido entre a Igreja Católica e o Estado é uma nova forma de financiamento. Actualmente, os contribuintes espanhóis podem destinar 0.5 por cento dos seus impostos para obras sociais, incluindo as da Igreja, o que é julgado insuficiente pela Conferência Episcopal. O que a hierarquia pretende é um aumento das contribuições directas do Estado. Seja como for, a relação entre revolução sexual e violência doméstica suscitou espanto e crítica na sociedade espanhola, horas antes de serem revelados números e novos casos (ver caixa). "A causa da morte violenta de mulheres é o machismo cultural, os senhores bispos têm uma doutrina errada", disse o líder socialista Rodriguez Zapatero. [...] "A maioria dos cidadãos vê os prelados como reaccionários que falam de uma moralidade que desconhecem", sintetizou Iñaki Anasagasti, líder da bancada, em Madrid, do Partido Nacionalista Basco, formação de forte influência católica. "A doutrina católica, ao exigir a obediência da mulher ao marido, favorece o débito conjugal e está na origem da cultura da violência", proclamou, em comunicado, a Federação de Mulheres Divorciadas. O mesmo argumento consta da posição da Rede de Mulheres contra a Violência: "O modelo familiar que [os bispos] defendem propõe a resignação cristã às vítimas da violência." O Governo de Madrid, através do seu ministro porta-voz, Eduardo Zaplana, também se distanciou: "Respeito o seu critério [da Conferência Episcopal], como o de qualquer outro grupo, mas não o compartilho." A avalancha de críticas levou a hierarquia a uma precisão. "A violência doméstica é anterior à revolução sexual", admitiu António Martinez Camino, porta-voz da Conferência Episcopal.

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