A iniciativa, que congrega mais de mil participantes de várias confissões religiosas e também outras interessadas em discutir o papel da mulher na sociedade, pretende debater a forma como as "distintas religiões e tradições espirituais podem formar e transformar a vida quotidiana numa Europa multicultural". Apesar de não ser o prato forte da agenda, o acesso das mulheres ao sacerdócio na Igreja Católica não deixará de estar presente nos debates, até porque são promovidos pela associação internacional Sínodo Europeu de Mulheres e por outras organizações católicas que se têm empenhado no assunto. [...] Sobre o acesso das mulheres ao sacerdócio, tema que mereceu largas referências nas conclusões do primeiro sínodo, realizado na Áustria em 1996, Julieta Dias pensa que o enfoque da questão é quase sempre mal colocado. A ordenação sacerdotal, diz, deveria ser revista "no sentido de não ser sacerdotal mas ministerial". Uma concepção que assenta mais na ideia de um serviço à comunidade do que numa noção sacralizada da função do padre, mais próxima de algumas igrejas protestantes? "Aparentemente sim", diz a irmã Julieta. Mas, "na prática, em muitas igrejas protestantes o ministério dos pastores também é muito clericalizado". [...]Quanto à origem do cristianismo e à tradição, Julieta Dias não tem dúvidas: "Jesus escolheu homens e mulheres para andarem com ele; as mulheres é que anunciaram primeiro a ressurreição e os primeiros passos para a organização da Igreja foram dados por mulheres, que também estiveram à frente de comunidades, tal como os homens." A transformação veio depois, com Santo Irineu e Tertuliano que, no século II, passaram a defender a marginalização da mulher. "Toda a gente perdia" com as mulheres em lugares de autoridade, defendiam, pois "a mulher é indigna de exercer qualquer serviço". Estas ideias foram-se difundindo até serem assumidas plenamente pelas comunidades cristãs no século IV, recorda a irmã Julieta. A par com o que se passava na sociedade, que também olhava a mulher apenas como "fazedora de filhos e doméstica", a situação levou à secundarização do sexo feminino. Para esta religiosa nem sequer servem os argumentos de que "as mulheres já fazem muita coisa na Igreja" ou que o tema pode ser deixado à inspiração divina. "As mulheres fazem muita coisa, mas se discordam" dos padres ou de quem manda são muitas vezes marginalizadas. E remeter o assunto para Deus é não querer tomar posição sobre o assunto. Julieta Dias confia que a atitude da Igreja Católica mudará. Mas antes disso será reconhecida a possibilidade de os padres poderem casar, diz. "Pode ser o primeiro passo para se perceber que na Igreja de Cristo qualquer pessoa é adequada para ser ministro de Deus, ao contrário da mentalidade subconsciente que hoje domina."
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