Da análise dos dados sobressai a existência de um europeu médio com valores distintos dos do americano, indica Ricardo Monteiro, vice-presidente da Euro RSCG europeia. Portugueses e polacos são os que mais se desviam da média. Uma confortável maioria de inquiridos é contra a pena de morte em qualquer circunstância (60 por cento). O único país favorável é a Polónia. Em Portugal, a negação de tal prática atinge os 59 por cento.
Portugal distancia-se da Europa, sobretudo ao defender que as mulheres com filhos não devem trabalhar: 58 por cento, quando a média europeia é 39 por cento. Todavia, não haverá aqui uma postura divergente, apenas uma realidade díspar. Portugal é um dos três países da Europa com a maior taxa de actividade de mulheres com filhos com menos de um ano (76,4 por cento, segundo um estudo publicado em Março pelo Eurostat). "Nalguns países nórdicos, as mulheres ficam um ano em casa e três em trabalho parcial, um direito extensível aos pais", frisa Ricardo Monteiro. Em Portugal, "não há essa flexibilidade".
Delicado é ainda o tema da homossexualidade: 51 por cento dos portugueses aceitam essa orientação sexual para uma média europeia de 64. Só a Polónia tem uma posição mais conservadora. Ainda assim, é de notar que, num estudo feito em 1991, 67 por cento dos portugueses achavam que a homossexualidade não tinha justificação. Uma vez mais, nota Monteiro, a convergência vem em crescendo. Uma análise mais fina dos dados permite constatar que os mais jovens são mais tolerantes: 75 por cento das pessoas com idades compreendidas entre os 18 e os 24 aceita a homossexualidade para uma fasquia de 25 por cento no grupo com mais de 65 anos. A tolerância aumenta também com o nível de educação. E não é indiferente ao local de residência (na Região de Lisboa e Vale do Tejo é de 61 por cento; no resto do país é de 45, com algumas variações).
Os portugueses então entre os europeus que mais importância dão à religião, mas o inquérito confirma uma progressão em matéria de aborto: a maioria admite a interrupção voluntária da gravidez (IVG) - 52 por cento. Embora a porção seja tímida face à média europeia (62 por cento), houve uma mudança por comparação ao referendo sobre a despenalização do aborto realizado em 1998. Os dados revelam uma clivagem: os homens são mais favoráveis à IVG do que as mulheres. E as pessoas com mais poder de compra, tal como as que têm maior nível de educação, também aceitam mais o aborto por vontade da mulher (72 por cento das pessoas com escolaridade elevada). [texto adaptado por PortugalGay.PT]