O Branco de Neve e os Seus Machões - assim se chama o espectáculo que se estreia hoje (21.30) [e é exibida novamente amanhã] - é, diz Graeme Pulleyn, o encenador, uma "verdadeira farsa trágica, que nos faz chorar e rir, que nos choca e que nos toca, uma explosiva mistela perigosa e encantadora".
O texto de Armando Silva Carvalho, deliberadamente, não responde. Não quer responder, opta por levantar questões, ensaiar dúvidas, em ambientes diferentes. Numa discoteca, por exemplo, quando a personagem principal (interpretada por vários actores) já ultrapassou o confronto com a família, os amigos, o mundo próximo que a rodeia, quando atinge o sucesso e antes da decadência e morte.
"A poesia de Armando Silva Carvalho cruza-se com o teatro medieval de Gil Vicente", remete para o mundo fantástico, refúgio necessário para sobreviver, diz o encenador. Para esse mundo de perigos encantos, Pulleyn conta com duas dezenas de jovens e, por vezes, surpreendentes actores (seleccionados no âmbito do PANOS, projecto Palcos Novos Palavras Novas, da Culturgest), alguns sem nunca terem pisado um palco, outros a sonharem com uma vida de teatro. E todos empenhados neste "contacto com mundos novos, com novas mentalidades", que, como sintetiza Micael de Almeida, 17 anos, "nos ajudam a crescer",
No palco, Micael é "um homem que vem à procura de prazer, numa casa própria para isso". A peça não se limita à transsexualidade, "levanta outras questões sobre a condição humana, abre outros horizontes", diz Mariana Vieira, aluna do 12º ano.
Trabalhar com tantos actores ao mesmo tempo é um privilégio, diz Pulleyn, nada incomodado com tanta inexperiência. O primeiro passo foi fazer com que distinguissem a pessoa da personagem. Depois "soltaram-se, libertaram-se" e trouxeram "abertura e muita energia". Para ver, hoje e amanhã, no Viriato, depois, em digressão, pelas escolas secundárias da cidade e região.