Num editorial com termos de rara dureza, o L'Osservatore Romano disse que um apresentador de um show de rock do 1o de maio, transmitido pela TV e patrocinado por sindicatos italianos, havia lançado 'ataques vis' ao papa Bento 16 diante de uma 'multidão excitável'.
'Isso também é terrorismo. É terrorismo lançar ataques contra a Igreja', disse o jornal. 'É terrorismo incitar ao ódio cego e irracional contra alguém que sempre fala em nome do amor, amor pela vida e amor pelo homem.'
No show, realizado anualmente diante da basílica de São João de Latrão -- a catedral de Roma, onde o papa Bento 16 tem lugar como bispo -, um dos apresentadores, Andrea Rivera, falou contra a posição do pontífice a respeito de várias questões.
'O papa diz que não acredita na evolução. Concordo, na verdade a Igreja nunca evoluiu', disse ele.
Ele também criticou a Igreja por se recusar a dar um funeral católico a Piergiorgio Welby, um homem que fez campanha pela eutanásia enquanto jazia paralisado com distrofia muscular. Ele morreu em dezembro, depois que um médico aceitou desligar seu respirador.
'Não posso suportar o fato de que o Vaticano tenha recusado um funeral para Welby, mas esse não foi o caso para [o diretor chileno Augusto] Pinochet ou [o ditador espanhol Francisco] Franco', disse ele entre as atrações musicais no concerto ao ar livre.
A última saraivada entre o Vaticano e seus críticos da Itália ocorre dias depois de o chefe da conferência episcopal italiana, arcebispo Angelo Bagnasco, receber uma bala pelo correio depois de fazer comentários que seus críticos dizem ter comparado a homossexualidade ao incesto e à pedofilia.
O Osservatore disse que o monólogo de Rivera ocorreu em meio a um crescente anticlericalismo na Itália, que inclui pichações e mensagens de Internet apoiando as Brigadas Vermelhas, o grupo marxista envolvido na violência política particularmente na década de 1970.
'Algumas pessoas até distorceram [as palavras de Bagnasco] para iniciar uma insidiosa 'guerra', uma nova temporada de tensão, que está inspirando os que buscam motivos para voltar a pegar em armas', disse o jornal.
O primeiro-ministro Romano Prodi, católico devoto que apóia uma legislação para dar direitos legais a casais não-casados, inclusive homossexuais -- um projeto ao qual a Igreja se opõe -- pediu calma. 'Temos de ter calma e bom senso', disse ele a jornalistas. 'Infelizmente, a retórica foi ficando continuamente mais áspera nos meses recentes. Este país não precisa disso.'