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Sexta-feira, 1 Setembro 2006 02:15

PORTUGAL
"Oficina de São José não dá educação"



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"A Oficina de S. José é uma instituição sem projecto educativo, com uma liderança retrógrada e obscurantista", afirmou ao DN Cidália Queirós, directora da Qualificar para Incluir, associação de solidariedade social que formou as duas técnicas que foram dispensadas pela Oficina de S. José (OSJ), depois de terem deposto em tribunal no chamado caso Gisberta.


A socióloga, que há seis anos trabalha com menores internados na instituição tutelada pela Diocese do Porto, é muito crítica do trabalho desenvolvido na OSJ. "Não tem saber nem condições para implementar um trabalho educativo que as crianças que ali vivem necessitam. Falar em maus tratos nem sempre é falar de violência física. Há outras formas", considerou.

Os rapazes "ficam sem vínculo a ninguém" e, por isso, acontecem casos como as agressões à transexual Gisberta, na qual estiveram implicados onze menores da OSJ. "Não há conversa nem socialização. É um mundo segregado. Fazem-nos viver num gueto", denunciou, exemplificando que durante o mês de Agosto mais de uma dezena de adolescentes permaneceu nas instalações da OSJ sem poder sair e sem ter qualquer tipo de actividades. "É um atentado." Cidália Queirós acusou mesmo a direcção da instituição de não querer formar os monitores. "Nunca quiseram técnicos. Só admitiram porque a Segurança Social os ameaçou de fecho", disse.

Quando uma psicóloga e uma assistente social ali foram colocadas, há dois anos, rapidamente se aperceberam das deficiências. Procuram corrigir, mas depararam-se sempre com obstáculos. "Os monitores não têm preparação e a Oficina nunca esteve interessada em dar formação", adiantou.

Com o caso Gisberta, as preocupações aumentaram. "A partir daí, tivemos várias reuniões, mas nunca davam em nada", disse, garantindo que "houve situações que originaram mesmo mal-estar", como quando descobriram que um monitor, protegido pela direcção, ficava com objectos dos miúdos ou quando as pessoas, voluntárias, que levavam crianças para passar o fim-de-semana foram proibidas de o fazer. "Há castigos indiscriminados", acusou Cidália Queirós, acrescentando ainda que a nível higiénico há também graves deficiências.

Perante isto, a directora da Qualificar para Incluir acha surpreendente o Instituto da Segurança Social afirmar que a OSJ cumpre todas as normas. "Não sei entender isso. A Segurança Social tem obrigação de saber de tudo", considerou, apelando a que a instituição promova a "transparência e deixe de viver em secretismo". "Há dinheiros públicos envolvidos", apontou. Por cada menor, as instituições de acolhimento recebem cerca de 400 euros.

Entretanto, a família da transexual Gisberta Salce, anunciou que autorizou uma advogada a reclamar uma indemnização ao Estado Português. O objectivo é accionar o Fundo de Protecção das Vítimas de Crimes Violentos, que é tutelado pelo Ministério da Justiça.

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