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Segunda-feira, 1 Julho 2013 21:32

PORTUGAL
Faleceu Guilherme de Melo



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Portugal está mais pobre, perdeu mais um rosto da nossa cultura literária, um jornalista de excelência, um activista sem filiação.

PORTUGAL: Faleceu Guilherme de Melo

No passado sábado dia 29 de Junho, Guilherme José de Melo deixou-nos aos 82 anos.

Viveu “A estranha aventura” (1961) de um jovem que amava amar, que amava escrever e que fazia das letras, “A sombra dos dias” (1981) de todos os seus dias, em Moçambique como chefe de redacção do jornal para onde sempre escreveu na coluna aberta aos leitores.

Foi o homem que enfrentou uma sociedade conservadora e hipócrita, pedindo a anulação do seu casamento de quatro anos, porque a sua dignidade não lhe permitia viver mais de fachada, mas também porque queria viver de consciência tranquila e não com o peso de que por falta de coragem e honradez a sua ex-mulher não viveria outro amor.

Foi um casamento de fachada onde os apenas os noivos sabiam das regras, Guilherme nunca escondeu à sua esposa que era homossexual, e após estipularem as regras, e porque o amor de sua esposa era maior, e a cumplicidade dos dois era muita, decidiram casar.

Dizia numa entrevista ao PortugalGay.pt “sou muito orgulhoso de mim mesmo, sem jeito para viver atrás de biombos”

Em Moçambique enfrentou todos de peito aberto, lá como cá, foi um activista sem filiação. Nessa mesma entrevista Guilherme disse que só havia duas formas de viver a sua sexualidade, ou como um rafeiro que todos atiram pedras, ou como um pastor alemão que é respeitado pois pode morder quando confrontado, “e foi isso que eu fui, um pastor alemão”. Mordeu tanto o preconceito e a ignorância social que o seu amigo Eduardo Pita lhe disse que ele foi o homem que tirou os homossexuais das cavernas.

Amor de amores e compromissos, o seu grande amor foi Elídio Artur, e com ele foram o primeiro casal homossexual a dar a cara na televisão portuguesa, no programa de Joaquim Furtado “Falar Claro”, e sem tropeçar nas palavras os dois deram o seu testemunho.

Para Elídio Artur da Palma Camacho foi mais que estar ao lado da pessoa que proibiu de morrer antes dele, foi sair de um armário pesado. Elídio foi o bombeiro que tomou conta do coração de Guilherme por 24 anos, vindo a falecer em Abril de 2009, o ano que faria 50 anos de vida e 25 de “casado”, e que ambos planeavam fazer uma grande festa para celebrar.

Guilherme de Melo foi diversas vezes homenageado e uma delas foi pelo seu amigo Carlos Castro, na 17ª Gala Noite dos Travesti, com o prémio “Amizade”, o prémio que assentou que nem um luva neste ser humano muito mais preocupado com os outros que consigo mesmo.

Guilherme José de Melo partiu feliz, certo do dever cumprido, dizia-o em 2009 durante a entrevista “estou na fila de espera”, assim como se a morte vivesse ali na “A porta ao lado” (2001) sentindo-se um privilegiado e que partiria de bem consigo e com a vida dizendo “Até sempre”.

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