Tem quem diga que o mundo está a mudar só ainda não se sabe ao certo em que sentido, se bom se menos bom. Contudo aqui e ali vamos observando comportamentos positivos que rumam à integração de pessoas que se possam sentir deslocadas da sociedade onde vivemos, exilados de uma sociedade que tenta ser o mais monocromática possível.
Descobrimos no Funchal, Madeira, no conhecido Jardim do Atlântico um quiosque em tudo diferente. O que nos fez parar e entrar foi uma bandeira, e já lá dentro descobrimos outras. Helena a proprietária recebeu-nos com simpatia e ficou até agradada com a nossa curiosidade.
Ela e o marido tem esta tabacaria há cerca de 8 anos e entre revistas, jornais e jogos da sorte, vendem também bandeiras. Coisa mais natural se observarmos o Funchal como um ponto turístico mas também terra de muitos emigrantes. Mas uma bandeira destaca-se, por não representar a nação de ninguém mas uma luta que devia ser de todos. A bandeira do arco-íris símbolo da luta LGBT+ está desfraldada no exterior da loja entre as outras bandeiras como a portuguesa e a dos EUA.
Helena e o marido vêm a coisa do lado comercial: se tem quem procura porque não providenciar quem forneça? Diz a proprietária que quando um cliente quer uma destas bandeiras ela descobre rápido a que vem o mesmo, pela sua postura mais ou menos embaraçada.
Eu trato logo de os por confortáveis falando do tema tanto quanto sei, de uma forma descontraída. Há ainda muito preconceito na ilha e por isso entendo a hesitação deles
Tudo isto seria apenas a história de uma bandeira arco-íris pendurada num quiosque na ilha da Madeira, uma bandeira entre outras, mas na vida de Helena há outras bandeiras que poderão não ser tão óbvias e que torna ainda mais interessante o estandarte.
Helena é casada há 15 anos com um senhor muçulmano ele também proprietário do referido quiosque, e por isso outras questões nos assaltaram o pensamento, e Helena com uma boa disposição bem visível responde-nos:
Verdade que no início da nossa relação o fato de eu ser cristã e ele muçulmano houve algumas estranhezas, ele cumpre um ritual diário sobre o qual eu na estava habituada, mas hoje é perfeitamente normal.
Quisemos saber ainda se o seu marido por ser muçulmano lhe exigiu que ela também o fosse, e a resposta com um sorriso foi de quem sim falaram sobre o assunto, mas nunca foi uma imposição, e por isso hoje cada um segue a sua fé. Mas um muçulmano com uma bandeira LGBT+ hasteada no seu quiosque? Helena não tem ilusões:
Para o meu marido trata-se apenas de um negócio!
É também nestas pequenas coisas do dia a dia que se faz ativismo: e esta co-proprietária de um quiosque no Funchal, Madeira, casada com um muçulmano, faz política social mesmo que a base seja o negócio ao ter uma bandeira arco-iris hasteada bem na frente da sua loja.