Este é um dos dados relevantes do estudo nacional realizado entre 17 e 18 de Abril último, que abrangeu mil pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 69 anos. Destas, 22 por cento não concordam que meninos infectados com o vírus da sida frequentem a mesma escola que as outras crianças e 14 por cento pensam que os adultos seropositivos não deverão exercer as respectivas profissões no local onde se encontram os seus colegas de trabalho. Ontem apresentados no Congresso sobre "Pandemias na Era da Globalização", que decorreu na Figueira da Foz, aqueles valores estão próximos dos que resultaram da resposta a questões idênticas formuladas num inquérito realizado em 1993. E, como sublinhou Fausto Amaro - o especialista do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (ISCSPUTL) que coordenou o estudo -, representam uma regressão relativamente a 1994, quando, imediatamente após uma campanha contra a discriminação promovida pela Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS), as percentagens baixaram de 22 para 13 por cento, no caso das crianças, e de 20 para 12 por cento, no que se refere a adultos seropositivos. As atitudes discriminatórias agora reveladas pelo estudo encomendado pela CNLCS e realizado pelo ISCSPUTL variam consoante os grupos etários. O que apresenta uma percentagem mais baixa de discriminação é o dos inquiridos que têm entre 25 e 29 anos (8,6 por cento no caso das crianças e 4,3 por cento em relação aos adultos). Estas sobem para 40 por cento e 23,8 por cento, respectivamente, quando o grupo de pessoas questionadas sobre o assunto tem entre 60 e 69 anos. A existência de variações conforme a idade dos inquiridos verifica-se também quando está em causa o conhecimento sobre a forma de transmissão da sida, com os mais novos a revelarem-se mais informados sobre o assunto. Mas, no total, ainda são 21 por cento aqueles que consideram que há um grande risco de transmissão da doença no caso de uma picadela de mosquito; 18 por cento os que classificam do mesmo modo a partilha de uma refeição com um seropositivo; e 57 por cento aqueles que consideram que uma transfusão de sangue no hospital representa um grande perigo. Em relação ao comportamento sexual dos portugueses, os resultados não são mais animadores. Dos 16 por cento de entrevistados que no último ano tiveram mais do que um parceiro sexual ou pelo menos um parceiro ocasional - um grupo considerado de grande risco - 20 por cento nunca usam preservativo e 42 por cento apenas o usam "às vezes". Questionados sobre as razões deste comportamento, 50 por cento respondem que não vêem razões para usar protecção. O estudo visou obter indicadores úteis para o planeamento de acções de prevenção a desenvolver pela CNLCS e também para testar os principais componentes da campanha a lançar durante o Euro 2004. "Alguma prática de sexo não protegido está muito associada ao turismo e a eventos deste género", salientou Paulo Nossa, coordenador da área da prevenção da CNLCS. A campanha deverá incluir a distribuição de folhetos em português, francês e inglês aos visitantes (nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro) e à população em geral, nos principais circuitos de diversão nocturna das cidades que vão acolher jogos realizados no âmbito do campeonato europeu de futebol. "A ideia não é lançar uma campanha agressiva mas promover uma sensibilização contínua que, desejavelmente, se prolongará por todo o Verão", precisou Paulo Nossa.
Pode também ter interesse em: