Sempre fui uma tarada por cinema em geral, mas a minha maior paixão sempre foram os musicais. Recordam-se dos velhos clássicos da MGM? Ainda hoje sonho com a ideia de fazer parte de um deles. Imaginem a minha surpresa quando li que o realizador Lars Von Trier, conhecido pelos seus filmes negros e deprimentes, ia fazer um musical. Confesso que fiquei à espera do pior, mas afinal o resultado é melhor do que aquilo que eu pensava.

O filme conta-nos a história (que nada tem a ver com o mundo cor-de-rosa do musical) de uma mãe solteira, Selma, que está a cegar devido a uma doença congénita. A fim de conseguir dinheiro para pagar uma operação que salvará os olhos do seu filho, ela farta-se de trabalhar e de poupar. Um dia o seu senhorio rouba-lhe o dinheiro e ela é obrigada a tomar medidas drásticas para o reaver.

Trier filma de forma pouco convencional, não usando filtros e com movimentos bruscos de câmara (não de cama). Apesar disso ele imprime ao filme um ritmo lento e por vezes arrastado. Mesmo assim o resultado é interessante, sem ser brilhante. Claro que achei os três minutos iniciais, com o écran todo negro (pensei que estava a ver uma pintura moderna) e música de fundo, pretensiosos, falhando em preparar o ambiente para o que segue.

Mas o pior do filme é o seu lado musical. Selma adora os velhos musicais, pois nestes nunca acontece nada de terrível, e quando começa a sentir-se deprimida imagina que está num e é aí que os números musicais aparecem. Infelizmente Trier filma-os sem magia ou brilho, nunca os deixando atingir o seu auge, indo assim contra a imaginação da sua personagem. Também a coreografia de Vincent Paterson (que já trabalhou com as outras divas, Maddona e Michael Jackson) deixa muito a desejar.

O melhor do filme é a revelação da cantora Björk (pronuncia-se bijorke) como Selma. Ela capta perfeitamente a alma do seu personagem, dando-nos uma interpretação digna de um óscar. A seu lado Catherine Deneuve (lembro-me de quando ela era nova e fez os musicais OS CHAPÉUS DE CHUVA DE CHERBOURG e AS DONZELAS DE ROCHEFORT, mas filhas todas nós envelhecemos) não convence como uma empregada de fábrica, a mulher tem demasiado classe para isso. O lado masculino é menos forte, com o insonso do David Morse a destacar-se como o malfadado senhorio. Uma breve aparição do velho Joel Grey (o inesquecível Mestre de Cerimónias de CABARET, que já tive o prazer de conhecer pessoalmente) dá ao filme o seu melhor momento musical.

Em conclusão, o filme é deprimente e muito negro, tornando-se por vezes angustiante e mesmo revoltante, mas isso quer dizer que não nos deixa indiferentes e isso é bom. Só é pena que os números musicais (nem sequer vou falar da música, pois é demasiado moderna para a minha idade) não sejam melhores, deixando-me saudades do fabuloso DINHEIRO DO CÉU, onde também os números musicais só aconteciam na imaginação dos seus personagens. Beijos

Miss Diva