Do México chega-nos esta produção que tem sido premiada em diversos festivais internacionais de cinema, tendo conseguido também uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Mais recentemente ganhou o Grande Prémio do nosso Fantasporto.

Três histórias cruzam-se num terrível acidente automobilístico. Na primeira, um jovem pobre, Octavio, está apaixonado pela sua cunhada e, com o fim de conseguir dinheiro para fugir com ela, mete-se no negócio das lutas ilegais de cães. Na segunda, um bonito modelo, Valeria, vai finalmente viver com o seu amante, mas quer o destino que ela fique inutilizada no tal acidente, com consequências inesperadas para a sua relação e para o seu pequeno cão. Na terceira, um vagabundo amante de cães, que é também um assassino a soldo, assiste ao acidente, salva o cão de Octavio e decide tentar reconquistar a filha que abandonou.

Três histórias que parecem não ter nada em comum, mas todas lidam com a infelicidade, tragédia e amor aos cães. Iñárritu, que tem aqui uma auspiciosa (uma palavra díficil, não é verdade?) estreia cinematográfica, dá-nos um filme violento, realista e extremamente incomodativo. O cinema deve sempre fazer-nos sentir algo e este filme não nos deixa indiferentes, mas também não nos deixa felizes, antes pelo contrário. Por outro lado, tal como na vida, ele não descura o humor (hilariante as cenas do cão debaixo do chão, quem se lembraria de tal coisa?) e consegue-nos fazer rir no meio de tanta miséria e degradação física e moral.

Também na direcção de actores Iñárritu se revela um homem talentoso, tirando o melhor partido do excelente grupo de actores à sua disposição. Destaque para Gaël Garcia Bernal, convincente e sincero como Octavio (com uns olhos ardentes, capazes de derreter qualquer um) e principalmente para Emilio Echevarría, excelente como o vagabundo. Também os cães estão em grande forma.

Um filme forte e difícil de ver, que peca (do verbo pecar) por ser demasiado longo.

Miss Diva